Entrevista

Entrevista com HeavensDust

25/08/2013 2013-08-25 00:01:00 JaME Autor: polina Tradução: Nasake, Shin

Entrevista com HeavensDust

O JaME conversou com o HeavensDust sobre seus sons únicos, misturando metal com instrumentos tradicionais japoneses, seu mais novo lançamento e planos para o futuro.


© HeavensDust - JaME - Laura Cooper
O HeavensDust conversou conosco sobre o uso do wagakki, instrumentos tradicionais japoneses, a mistura de culturas e emoções em sua música, seu mais novo lançamento e também seus planos para o futuro, incluindo atividades no exterior.


Por favor, se apresentem.

Shin: Sou o vocalista do HeavensDust, Shin.
KAI_SHiNE: Sou KAI_SHiNE no wadaiko (bateria taiko japonesa).
5hiNo': Sou o guitarrista 5hiNo'.
KoREDS: Sou KoREDS, baterista.

Vocês poderiam nos contar sobre a origem do nome da banda?

Shin: Originalmente, eu pensei em criar as bandas Heaven's Cry e Angel Dust, e ao combiná-las tornou-se HeavensDust. O nome possui o significado de algo lindo que existe dentro de algo que não é tão bonito assim.

Qual é o conceito da banda?

Shin: Eu nasci no exterior, mas obviamente possuo sangue japonês. Eu faço música ocidental, mas pensei em criar um estilo que também revele a identidade japonesa.

Como vocês começaram a misturar o metal com instrumentos tradicionais japoneses?

Shin: Eu estava tocando em bandas nos EUA e me perguntava qual era a diferença entre mim e outras bandas estadunidenses; eu queria fazer algo diferente. Então pensei em usar os instrumentos tradicionais japoneses em minhas canções, e foi assim que começou.

KAI_SHiNE, o wadaiko não é algo que você normalmente pensa em tocar durante o ensino médio, por exemplo. Como veio a ideia de tocar esse instrumento?

KAI_SHiNE: Eu conheci o wadaiko no ensino fundamental, quando me envolvi em uma performance. Eu não sei porque, mas eu quis tocar (risos).

E como você chegou até o metal?

KAI_SHiNE: De início, além do wadaiko, eu gostava de música estrangeira, bandas e música dance. Os instrumentos do meu país, como o wadaiko, são normalmente tocados sozinhos; assim como o shakuhachi ou o shamisen. Em outros países a percussão é normalmente usada religiosamente, e o mesmo serve para o wadaiko. Por exemplo, o Obon, um festival de culto aos ancestrais que irá acontecer brevemente em agosto, toca uma música e todos dançam em adoração a seus ancestrais. Em outros países na África e na América do Sul também há uma cultura semelhante envolvendo a percussão. Mas em outros países a percussão é usada em colaboração com outras músicas e instrumentos, e no Japão também, há um formato padrão com baixo, guitarra e bateria, e eu não estava feliz que os instrumentos do meu país não estavam incluídos. Eu pensei que poderia fazer algo sobre isso. De início eu tentei fazer trance ou hip hop, e eu também toquei em bandas, então aconteceu naturalmente quando pensamos: ei, vamos tocar juntos.

É uma mistura interessante, mas deve ser difícil ao vivo.

HeavensDust: É difícil desde o ensaio. Os estúdios não possuem wadaiko e você não pode alugá-los. Você não pode ir em um estúdio ou uma casa de show e esperar que eles tenham um. Se eles quebrarem você tem um problema. (risos)

Como é tocar bateria com um wadaiko?

KoREDS: Eu nunca toquei wadaiko e eu não tinha experiência em tocar junto com um antes dessa banda, então é bem interessante. Mas quando você tem que tocar em um estúdio o som prevalece. É um som mais alto do que eu havia imaginado, então eu preciso colocar bastante energia na minha parte, e eu tenho que me focar até mesmo durante os ensaios. (risos)
KAI_SHiNE: Mas é bem natural. Não há hardware no wadaiko, não há pratos. Quando as pessoas ouvem à música, elas normalmente sentem a batida com o prato, eu acho. E como isso não existe no wadaiko, quando você toca junto com uma bateria que tem as ferramentas, se torna mais uma batida. É claro que, mesmo que eu toque sozinho, há uma batida, mas da perspectiva do ouvinte é quando esses dois se combinam que a batida nasce.
KoREDS: Por outro lado, quando cometemos um erro no estúdio, por exemplo, é facilmente notável. É muito difícil.
Shin: Em comparação com outras bandas há mais sons individuais, então não é perfeito, se o som sai errado se torna ainda mais desconexo do que em bandas normais.

5hiNo', como guitarrista, que influência você sente dos instrumentos japoneses?

5hiNo': Por exemplo, em lugares onde normalmente haveriam um solo de guitarra em um interlúdio, há um solo de shakuhachi e tal, e nosso alcance sonoro é bem parecido, então precisamos tomar cuidado para equilibrar os instrumentos. O ritmo se torna aliado ao wadaiko e os lugares dos quais você normalmente destaca mudam. É mais difícil se mostrar.
KoREDS: É um pouco estranho eu dizer isso, mas afinal de contas o som do wadaiko ou do shakuhachi não são os tipos de sons que você normalmente ouve, especialmente em músicas barulhentas. É uma novidade para nós tocar assim, então eu acho que deve ser uma experiência nova se você puder nos ouvir ou assistir ao vivo.
Shin: Melhor do que o CD, é uma visão interessante ver o wadaiko ao vivo no palco, por exemplo. E há coisas que você consegue ouvir nos shows que não consegue na gravação.
KAI_SHiNE: O wadaiko é feito de madeira oca e o shakuhachi de bambu, e tais sons naturais crescem ao vivo. É um equilíbrio interessante de se ouvir quando o agudo intenso da guitarra ou do baixo tocado através do amplificador atravessa o crescimento dos sons crus dos outros instrumentos.

Já que provavelmente deve ser bem diferente de bandas comuns, como acontece o processo de criação de canções?

Shin: Eu somente jogo todo o arranjo para os membros; eu falo para eles: "faça algo legal." Eu estou meio que estudando os ritmos do wadaiko, mas eu não sei como expressar as coisas com esses instrumentos, então eu deixo nas mãos de cada membro. Mas isso não acontece por causa dos instrumentos tradicionais; é só que aconteceu de querermos usar instrumentos japoneses para nos expressar. Se nós quiséssemos ter usado o violino estaríamos fazendo o mesmo. Não muda muito do arranjo de uma guitarra, por exemplo.

Vocês transmitem a cultura japonesa com os instrumentos, mas as letras são em inglês. Por que fizeram essa escolha?

Shin: Eu não consigo escrever em japonês. Se eu conseguisse escrever boas letras e transmitir meus pensamentos em japonês, eu gostaria de fazer. Não é que eu não queira cantar em japonês, mas já que cresci com o inglês não consigo transmitir tudo ao escrever com letras em japonês. Apesar de não vir à tona, KAI_SHiNE canta em japonês, então não é como se a língua não fosse bem-vinda na banda.
KAI_SHiNE: Nosso vocalista não gosta de japonês (risos).
Shin: Eles pegam muito no meu pé por isso, mas eu não gosto de japonês e nem de inglês (risos). Algumas coisas que não consigo dizer em inglês eu digo em japonês, enquanto outras coisas que não consigo dizer em japonês eu digo em inglês. Essa mistura é a melhor.

Vocês costumavam ter uma vocalista um tempo atrás. Foi difícil voltar a cantar sozinho?

Shin: É um desafio fazer tanto a melodia quanto o grito, mas não é uma grande preocupação. De início, a razão da qual seguimos caminhos diferentes eram as diferenças musicais, então você pode notar que nos tornamos mais agressivos desde então, e dessa maneira é fácil nos expressarmos em nossas canções.

Vocês consideram ter uma vocalista novamente?

Shin: Colaborações seriam interessantes. Eu acho que com certeza poderíamos fazer algumas canções com uma convidada.

Falando em colaborações, vocês fizeram uma canção com Dan Chandler do Evans Blue após o terremoto de Tohoku; como isso aconteceu?

Shin: Depois do terremoto de Tokohu eu senti que queria criar uma canção relacionada a isso e escrevi um tweet sobre. Ele disse que gostaria de cooperar, se pudesse, e eu achei ótimo que um artista estrangeiro pensa assim sobre o Japão e nós decidimos realizar a colaboração logo de cara. Aconteceu muito facilmente.

Vocês podem nos falar um pouco sobre o novo álbum The Ashes Still Warm?

Shin: É pesado. É o nosso álbum mais agressivo até então. Quando criamos as músicas havia muita raiva, estresse e frustração, então foi assim que aconteceu. Nós não decidimos que seria assim, mas muitas músicas de metal surgiram e eu fiquei satisfeito com o resultado. Afinal, as emoções das pessoas mudam dependendo do ambiente. Se eu estou triste escrevo canções com esse sentimento. Se eu me casasse e tivesse um filho escreveria canções felizes. As emoções possuem muita influência e aconteceu que havia muita raiva em mim enquanto eu escrevia. Mas isso não é tão negativo; tornou-se uma energia positiva.

Como você consegue expressar a negatividade de uma forma positiva?

Shin: Nossa canção Annihilation, por exemplo, que também tem um PV, é bem agressiva. É fácil expressar raiva através do metal, mas mesmo que você diga coisas negativas tipo "Foda-se! Vou matar você!", você pode estar matando coisas negativas com isso. Não é tipo "Foda-se, eu vou matar todos vocês", é mais matar as negatividades dentro de você. Então é um álbum que transforma a negatividade em positividade.

O álbum atual de vocês foi lançado, na verdade, um ano antes nos EUA. Podemos esperar novos lançamentos de vocês?

Shin: Certamente. Nós estamos pensando em muitas coisas. Gostaríamos de fazer uma gravação, fazer um novo álbum ano que vem. Nós já temos algumas canções então gostaríamos de avançar com o resto. Elas são ainda mais legais do que temos agora, então vocês podem esperar por algo ainda mais legal.

Vocês fizeram alguns shows nos EUA. Qual a diferença entre o Japão?

Shin: Eu não posso dizer que um é melhor que outro, mas há diferenças. Por exemplo, as pessoas, às vezes, começam a bater cabeça com um solo de shakuhachi nos EUA, enquanto a plateia japonesa pensa nos bons modos e ouve mais silenciosamente - ambas são divertidas. Nos EUA, eles dizem de cara se as pessoas pensam que algo não é bom, e é fácil de entender e interessante. Bater cabeça com um solo de shakuhachi foi bem interessante (risos).

Em uma entrevista anterior vocês disseram que estavam planejando ir para a Coreia e os EUA. Vocês podem nos contar mais sobre isso?

Shin: Esperamos fazer isso em breve. As datas ainda não são definitivas, mas estamos trabalhando nisso no momento.

E quanto a Europa?

Shin: Nós também queremos muito ir à Europa! Há muitas bandas de metal e rock e o cenário lá é quente, então gostaríamos de ir para lá também.

Se vocês pudessem ir a algum lugar no exterior, para onde seria?

KAI_SHiNE: Eu quero ir para a Inglaterra. Eu me senti muito à vontade lá e foi divertido, então quero ir novamente. Eu também quero ir para lugares como Düsseldorf na Alemanha, onde há uma grande comunidade japonesa e tocar para eles, e eu quero ir para lugares que nunca visitei antes. Eu gostaria de tocar no Brasil! Eu não sei porque, como alguém que toca wadaiko, mas eu acho que seria divertido (risos).
5hiNo': Seria divertido se pudéssemos visitar o mundo todo. Por exemplo, o Sudeste Asiático seria interessante também e, é claro, a Europa.
KoREDS: Eu me juntei à banda neste ano e até então eu só estava ativo no Japão. Eu gosto de bandas estrangeiras, mas nunca pensei em sair do país. Eu me sentia satisfeito se pudesse tocar somente no Japão, mas desde que me juntei à HeavensDust eu também comecei a sentir que gostaria de tocar internacionalmente, além de testar minha própria performance lá. Não importa o país, eu gostaria de tocar em um lugar que não seja o Japão.
Shin: Eu nasci no Panamá e então me mudei para os EUA. Eu também visitei Londres e Espanha, e senti que gostaria de conhecer muitas pessoas de diferentes etnias através da música. Eu gostaria de tocar com pessoas de diferentes etnias, e é como se não houvessem idiomas ou fronteiras. Todos dizem isso, mas eu realmente acho que seja assim. Por exemplo, mesmo que vocês se odeiem e fossem um tocar em um show onde as pessoas veem que você é japonês e eles ficassem tipo "dane-se!" de início, você começa a tocar e as pessoas mudam para "yeah!". Talvez eles não entendam as palavras, mas eles gritam e ambos ficam felizes. Esse tipo de sentimento é muito divertido e eu quero entrar em contato com muitos instrumentos, culturas e etnias.

Por fim, por favor, enviem uma mensagem para nossos leitores.

Shin: Nós queremos ir para muitos lugares no mundo todo, então, por favor, nos apoiem. Daremos o nosso melhor para tocar em cada parte do mundo. Nosso álbum atual é bom, e o próximo será ainda melhor, e a partir de agora será cada vez melhor, então ouçam nossa música, por favor.
KAI_SHiNE: Eu acho que também há pessoas que gostam de nós em outros países, que estão tentando tocar novos tipos de canções usando os instrumentos de seu próprio país. Não importa aonde vamos, gostaríamos que as pessoas se interessassem pela música de outros países. Estamos em uma nova era agora e gostaríamos que todos queiram continuar a viver com a música, comprando CDs, querendo ir e aproveitando shows. Nós mesmos queremos entrar em contato com a música de diversas partes do mundo, e seria ótimo se os ouvintes fizessem o mesmo. Por favor, a partir de agora também, yoroshiku onegaishimasu. Por favor, escreva o "yoroshiku onegaishimasu" em alfabeto. (risos)
5hiNo': Nós somos vistos como uma banda que usa instrumentos tradicionais japoneses, mas nós também somos influenciados por músicas estrangeiras e do ocidente. Eu gosto da música americana e europeia, então nós fazemos uma mistura dessas diversas influências no HeavensDust, e mandamos de volta para o exterior, o que eu acho interessante. Não importa o país e o estilo, nós gostaríamos que muitas pessoas que gostem de música ouçam nossas canções. Eu espero ter o apoio de vocês.
KoREDS: Eu não quero usar rótulos, mas na música pesada, tanto no Japão quanto no exterior, não existe outra banda como nós. Incluindo o wadaiko e o shakuhachi, seria ótimo criar um estilo como nenhum outro. Fundar um estilo que não existe é o meu sonho. Por favor, continuem a nos apoiar.



O JaME gostaria de agradecer ao HeavensDust pelo seu tempo.
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