MASS OF THE FERMENTING DREGS no Hard Club, em Porto

Embora existam muitas bandas japonesas que alcançaram carreiras internacionais de sucesso apesar da barreira do idioma, há outras que, apesar de não ser culpa delas, parecem passar despercebidas. Não é incomum mergulhar na história de bandas menos conhecidas e procurar datas de turnê apenas para descobrir que seu último lançamento foi há anos e que elas nunca pisaram fora do Japão durante toda a sua carreira. A experiência de um novo fã da MASS OF THE FERMENTING DREGS em 2014 seria parecida com isso.

A banda foi formada em 2002 e apresentou ao mundo dois excelentes mini-álbuns pela Avocado Records e um álbum completo pela Capital Records (ambas subsidiárias da grande gravadora EMI). Eles fizeram centenas de shows até 2011, incluindo alguns no exterior em 2010, mas um avanço internacional nunca aconteceu. O grupo se desfez, uma música de despedida foi lançada em 2012, e isso deveria ser o fim.

Três anos depois, a baixista e vocalista Natsuko Miyamoto reuniu a banda com o guitarrista Naoya Ogura e o baterista Isao Yoshino, sua última formação estável, e em pouco tempo o trio parecia estar novamente a todo vapor, tocando por todo o Japão e quatro vezes no Canadá. Em 2018, eles lançaram No New World, seu primeiro álbum em oito anos e o primeiro como banda independente – sem afiliação a uma grande gravadora. Shows na Coreia do Sul, China e Taiwan logo vieram. Em 2020, quando as turnês eram praticamente impossíveis, eles fizeram um financiamento coletivo para o Naked Album, uma regravação de músicas antigas. Outra campanha de financiamento bem-sucedida em 2023 permitiu que eles fizessem, pela primeira vez, uma turnê pelos Estados Unidos, esgotando muitos desses shows.

Quanto à estreia europeia, uma apresentação às 16h no ArcTanGent Festival em 2022 estava longe de ser a principal atração do evento, mas certamente encantou os fãs que tiveram a sorte de testemunhar a performance e fez o restante deles ansiar por uma turnê europeia em breve.

Uma turnê de 14 shows em 10 países finalmente aconteceu em 2024, e a animação era palpável: levou menos de duas semanas para que os shows em Londres e Manchester fossem transferidos para locais maiores devido à alta demanda por ingressos, e eles acabaram esgotando a maioria dos shows. O público português está acostumado a anúncios de "turnês europeias" que não mencionam seu país, especialmente se não houver datas na Espanha, então foi bastante surpreendente ver que a  MOTFD visitaria não apenas Lisboa, mas também Porto.

O show em Porto foi o último da turnê, mas passar as duas semanas anteriores na estrada só energizou a banda. O local lotado transbordava em ansiedade por vê-los pela primeira vez e o clima era contagiante, com os fãs e a banda se motivando desde o momento em que o trio pisou no palco.

Após Sugar e New Order, ambas do álbum No New World, a terceira música foi Aoi, Koi, Daidaiiro no Hi, uma lembrança do lançamento de 2009, World Is Yours, que indicava que o show apresentaria uma mistura de músicas antigas e novas. Durante o show, a mistura de shoegaze/post-hardcore foi entrelaçada ao toque mais pop e animado de grande parte dos seus trabalhos mais recentes, e a setlist foi coerente e bem planejada.


Foram tocadas apenas três músicas de Awakening:Sleeping. Dramatic não ficaria deslocada em nenhum dos álbuns anteriores e, portanto, se encaixou perfeitamente no setlist. 1960, uma música krautrock dançante, proporcionou um bom contraste com a mais pesada Kakuiumono, e a brevidade de Birds and rhythm funcionou como uma espécie de interlúdio entre as longas End Roll e Slow-Motion Replay.

De fato, esses contrastes são parte do que torna a  MOTFD uma banda tão especial: o sentimento bruto que sua música oferece, apesar da habilidade sublime dos músicos; a potência da voz de Natsuko, apesar de sua suavidade; e até a melancolia em muitas de suas canções, uma emoção ambígua em si mesma.

Embora a brilhante delusionalism – uma das primeiras demos lançadas pela MOTFD – tenha servido de encore em muitos shows, a banda parecia querer fazer esses momentos finais da turnê contarem. Eles também tocaram if a surfer, outra demo que rapidamente se tornou um clássico cult, pela primeira e única vez durante essa turnê. Foi uma despedida perfeita para a sua primeira turnê europeia.

Set list

01. Sugar
02. New Order
03. Aoi, Koi, Daidaiiro no Hi
04. She is inside, He is outside
05. Kakuiumono
06. 1960
07. Dramatic
08. End Roll
09. Birds and Rhythm
10. Slow-Motion Replay
11. Asahinagu
12. World Is Yours

Encore

13. delusionalism
14. i f a surfer

Os fãs internacionais não terão que esperar muito por outra oportunidade de ver a MASS OF THE FERMENTING DREGS. Eles abarcarão em uma turnê norte-americana  em setembro, que começará em Phoenix, no Arizona, no dia 13, e várias outras datas já estão esgotadas. Os ingressos estão disponíveis aqui.

Confira a seguir uma playlist que montamos com a setlist do show: