Entrevistamos o guitarrista Taka, antes do show em Berlim para falar sobre turnês e seu novo álbum, Hymn To The Immortal Wind.
Trinta minutos antes do início do show, nós fomos até o confortável tour bus da banda para conversar um pouco sobre o MONO com o cansado, porém muito calmo, Taka. Desde sua fundação há 10 anos, eles passaram a maior parte de suas vidas em turnê. Durante tanto a entrevista como o show, a banda não agiu como se estivesse a milhares de quilômetros de casa. Ao contrário, com o passar dos anos, parece que o palco se tornou o seu verdadeiro lar.
Eu só percebi isso ontem: Hoje é o seu 15º show seguido! E vocês ainda têm outros 18, com apenas um dia de folga! Vocês ainda não se cansaram?
Taka: Na noite passada, a gente só dormiu. (risos) Depende, às vezes um dia de folga muda sua rotina de um jeito ruim. Continuidade é ótimo. Seu corpo se acostuma, então não é tão difícil. Nós passamos praticamente os últimos seis anos em turnê, estamos bem.
Aconteceu algo digno de nota até agora? Algum palco que desmoronou, fãs estranhos, etc.?
Taka: Durante a primeira semana desta turnê, eu fiz um corte feio no braço. Eu não sei o que aconteceu, de repente tinha um monte de sangue no palco... Mas por alguma razão, não doeu. Eu não senti nada, foi estranho. Mas agora estou bem.
O que os mantém vivos?
Taka: Definitivamente é o público. Eles nos dão poder. Se tocássemos apenas para cinco ou dez pessoas todas as noites, não conseguiríamos fazer isso.
Este ano é um grande aniversário para o MONO. Olhando para trás, no início da banda: O que você esperava alcançar inicialmente?
Taka: Nós somos uma banda japonesa. Quando começamos, nós queríamos fazer turnês fora do Japão, o que era muito difícil. Eu não sei o motivo, mas eu vi bandas americanas tocando pelo Japão e Ásia, bandas européias também. Mas havia apenas algumas bandas japonesas tocando fora do Japão. Ninguém nos chamou, nós apenas queríamos ir. Não sabíamos como conseguir um contrato de gravação ou achar um agente de turnês. Eu acho que isso melhorou nos últimos dez anos. Mas o tempo passa tão depressa... Eu lembro quando nós tivemos que tocar em bares durante nossa primeira turnê americana. Sem palco, sem microfones, apenas seis ou sete pessoas na platéia, e todos bêbados. Ninguém prestou atenção, porque ninguém nos conhecia. Isso nos fez tocar cada vez mais alto, agitando com guitarras, baixo e bateria...
Então é por isso que vocês são tão barulhentos?
Taka: (risos) Com certeza. Nós somos muito barulhentos. Queríamos que as pessoas se impressionassem. Agora estamos ficando mais quietos. Eu acho que os americanos são muito honestos. Quando eles gostam da música, eles realmente gostam. Nossa primeira turnê inglesa teve sete pessoas em cada show, agora são quase 800 por show. Nós realmente apreciamos isso, porque nós somos uma pequena banda independente e odiamos publicidade e companhias major. Nós queremos ficar independentes. As pessoas apenas falam sobre nós e tudo acontece tão rápido. Tudo parece natural. E tudo isso aconteceu por causa da audiência.
Aqui na Europa, Hymn to the Immortal Wind foi lançado há apenas dez dias. Ele se conecta com uma história de Heeya So. Você costumava dizer que gostava de música instrumental por causa da liberdade de significado; este aspecto parece menor hoje. É mais fácil compor quando há um conceito?
Taka: A idéia surgiu porque há muitas bandas instrumentais e de post-rock, e todas elas são bem parecidas. E todas elas dizem que as pessoas podem imaginar coisas apenas escutando o som. Eu não acredito nisso. Eu achei que seria melhor e mais bonito se pudéssemos apresentar algo mais particular. Quando como em um filme ou livro, as pessoas acham mais fácil de se relacionar. Se todos tiverem a mesma imaginação ao escutar a canção, ela será mais forte.
Então você terá mais controle sobre suas interpretações?
Taka: Sim. Mas acho que é como um jogo. Algumas pessoas gostam de imaginar as coisas de seu próprio jeito. Eu queria tentar algo mais parecido com um filme.
Esta não é a primeira vez para vocês, mas como foi trabalhar com Steve Albini e com uma orquestra? Ele não é exatamente um produtor clássico, certo?
Taka: Acho que em nosso primeiro álbum nós usamos um violoncelo, para o segundo álbum foi um violoncelo e um violino, e para o terceiro foi um quarteto de cordas. É uma evolução natural. Antes de escrever as canções para Hymn to the Immortal Wind, eu já planejava usar uma orquestra completa. Eu tive confiança em escrever partituras porque já planejava isso há cinco anos. Você consegue muito volume com apenas um quarteto, mas e se eu preparasse um segundo quarteto, o quão alto ele seria? Você já pode imaginar. E apesar de usarmos uma orquestra completa, apenas quatro músicos neste álbum fazem parte da banda, e isso não mudou desde que começamos. Nos comunicamos muito bem. Quando vejo um problema, eu converso sobre isso e eles fazem o mesmo.
Perguntei isso porque sua mixagem é bem limpa se comparada aos outros trabalhos de Steve...
Taka: Mas Steve é um gênio, ele conhece todos os tipos de música. Ele poderia até mesmo gravar uma banda de jazz, porque ele tem um grande ouvido. E sempre é divertido gravar com ele. Nós odiamos fazer overdubs, nós apenas tocamos as coisas que tocaríamos em um ambiente ao vivo. E levou apenas duas semanas, incluindo a mixagem, para fazer este álbum. Isso é muito rápido. Ele é definitivamente um gênio. Ele é meu professor.
Você disse que queria que este álbum fosse mais alegre que os anteriores. Isso funcionou para você?
Taka: Eu acho que sim. O que você acha? (risos)
Eu também acho.
Taka: Eu queria fazer algo como a 9ª sinfonia de Beethoven, uma peça musical louca e emocionante.
Quando você compõe música, você segue alguma história em sua cabeça? Não para este álbum especificamente, mas em geral?
Taka: Eu escrevi alguns roteiros, mas não sou escritor profissional. Os membros e Esteban Rey, que fez a arte da capa dos nossos últimos três ou quatro álbuns, devem saber.
Eu gosto muito da capa e do design do site. Elas combinam com o clima do álbum.
Taka: Obrigado. Eu queria fazer música que as pessoas pudessem escutar de manhã, porque geralmente elas o fazem durante a noite. Nós sempre a imaginamos como uma floresta, bem sombria, e você precisa encontrar esperança. Desde o começo, esperança era a parte central deste álbum. Adeus, morte.
Vocês gostam de agir internacionalmente, vocês trabalham com várias pessoas de diferentes países, certo? Vocês têm uma galeria de imagens em seu antigo web site. Como vocês escolheram os artistas e as imagens?
Taka: Eu não tenho idéia. Nós apenas coletamos imagens interessantes que as pessoas nos mandaram...
Elas são muito semelhantes com as músicas.
Taka: Como eu disse, elas foram enviadas para nós. Isso é a cultura da Internet. (risos)
Quais são seus planos para quando esta turnê acabar?
Taka: Bem, nós tocaremos em Nova Iorque com uma orquestra, em seguida vamos para Taiwan, Japão e Europa novamente para os festivais. Nós faremos turnês por pelo menos três anos e depois... Talvez façamos novas canções. Eu não quero pensar sobre isso agora.
Então tudo está em aberto agora.
Taka: Sim. Ano passado nós decidimos parar de excursionar. Eu estava compondo canções todo o tempo, era totalmente caótico. Eu prefiro excursionar, faz-me sentir bem por causa das fortes emoções e da multidão. Quando estou em minha sala de ensaios no Japão, eu fico pensando e imaginando sobre isso constantemente. Isso me faz feliz.
Falando sobre internacionalidade - você concorda que seu design visual (os CDs e o site) é japonês, enquanto seu estilo musical é europeu?
Taka: Oh, você acha? Na verdade, eu não faço idéia. Uma vez alguém me disse que Ashes In The Snow, a primeira faixa de Hymn to the Immortal Wind, tem uma melodia bem japonesa. Talvez eu tenha algumas coisas tradicionais japonesas em mim, mas eu não controlo isso. Eu amo Ennio Morricone e Beethoven, mas não sei o quanto tenho da cultura tradicional japonesa. Mas talvez eu tenha algo.
Você gostaria de compor a trilha para um filme?
Taka: Com certeza. Queremos fazer isso, seria lindo.
Por favor, deixe alguns comentários para nossos leitores!
Taka: Para ser honesto, eu acho que até três anos atrás, era muito difícil tocar na Alemanha. Nós tocávamos bastante, mas as casas estavam sempre vazias. Mesmo na França, Inglaterra e Holanda, as coisas estavam melhorando para nós, mas era duro tocar na Alemanha. Parece que agora as pessoas estão se interessando. Nós estamos muito felizes de tocar aqui, e espero que nossa música alcance mais pessoas.
Isso é ótimo.
Taka: Será demais, eu acredito. (risos)
Obrigado ao MONO e Joris da Conspiracy Records por tornar esta entrevista possível.