O JaME se encontrou com a selvagem banda de hip-hop eletrônico Chimidoro no dia seguinte a seu show no L’EXPERIENCE JAPONAISE 2009, em Nîmes.
O brincalhão grupo eletrônico Chimidoro já existe há mais de dez anos, mas só lançou um álbum em 2007. Enquanto eles estavam na França para o L’EXPERIENCE JAPONAISE 2009 – uma bienal que celebra a cultura asiática com diversas apresentações ao vivo e workshops – o JaME teve a oportunidade de se encontrar com o grupo e falar sobre seu início, suas influências e mais.
Olá. Vocês poderiam se apresentar para os leitores que ainda não os conhecem?
Nao: Olá, nós somos de Tóquio e fazemos parte da banda Chimidoro. Nós tocamos rap e baixo com música eletrônica, o que nos aproxima do techno e do hip-hop, mas com um som dançante. Nossas letras são simples, assim todos podem cantar e se divertir enquanto dançam ao som de músicas felizes.
Os outros: Ele explicou tudo. (risos)
Nao, na universidade você descobriu a cena techno de Detroit e o ghetto house. Esse foi um fator decisivo em seu desejo de tocar música?
Nao: Sim, de fato. A música de Detroit e especialmente o estilo house de Chicago deixaram uma grande impressão em mim. Havia aqueles ritmos básicos, nos quais samples de voz eram repetidos várias vezes. Soava simples, mas eu achava legal. Então nós achamos que poderíamos fazer a mesma coisa.
Como o Chimidoro nasceu depois disso?
Kentaro: Nós nos conhecemos no colegial.
Nao: Sim, nós jogávamos vídeo game juntos ou andávamos de bicicleta na rua. Então, nós compramos um sintetizador e um samples e nos divertíamos muito cantando e criando efeitos sonoros estranhos com nossas vozes.
Hiroaki: Assim: (canta com uma voz distorcida) “O-ho!” (risos) (Hiroaki sempre canta desse jeito fora de tom. Além disso, uma de suas músicas usa bastante o hilário “o-ho”)
Nao: Sim, esse tipo de coisa. Uma coisa levou à outra e finalmente nós acabamos fazendo música. (risos) E nós até viemos tocar na França. (risos)
Como vocês fizeram seus primeiros shows? Como o público reagiu na época?
Nao: Antes de Kazuhiro entrar para a banda como baixista, nós três tocávamos para amigos que nos encorajavam, em casas de shows pequenas e festas. Kentaro e Hiroaki estavam relutantes. Eles não queriam fazer isso. Para eles era como ter de enfrentar um desafio.
Kentaro: Uma punição, sim. (risos)
Nao: Mas eu insisti, e finalmente eles fizeram isso por mim.
Kentaro: Quanto a mim, eu era um DJ na época, e não sabia como era tocar em uma banda. Além disso, nós só ensaiamos uma vez antes de tocar. (risos)
Nao: Depois do nosso primeiro show, eu realmente pensei que não haveria um segundo. (risos)
KAzuhiro: Quanto a mim, eu era um espectador no primeiro show. Eu estava assistindo ao Chimidoro e achei que eles fossem uma banda muito interessante. Eles eram cheios de ansiedade, como o primeiro show de um garoto de escola. Suas mãos tremiam, eles não ousavam cantar – era algo novo e verdadeiro. Uma banda extraordinária! (risos)
Seu primeiro show foi quase totalmente improvisado?
Nao: As letras, os vocais, tudo foi preparado antes. Mas nada aconteceu como nós esperávamos. (risos) Ontem tudo foi improvisado. (risos)
Sério? Pareceu muito profissional. (risos) Kazuhiro, quando você entrou para o Chimidoro e como isso aconteceu?
Kazuhiro: Nós tivemos outras oportunidades de nos encontrarmos em festas. Aconteceu que, naquele dia, o Kicell também ia tocar. Nao é um grande fã da banda e estava muito nervoso. Nós falamos sobre isso, e foi então que ele me pediu para tocar com eles, para terem algo mais instrumental. Quando foi isso?
Nao: Em 2006. Foi há três anos.
Kazuhiro, a música do Chimidoro mudou com a sua chegada?
Kazuhiro: Ah não, nada mudou. (risos) Seria embaraçoso se algo tivesse mudado. Esse ar de música amadora não deve ser quebrado. Eu realmente não queria mudar isso.
Desde quando vocês começaram, nós tivemos que esperar dez anos – até 2007 – pelo lançamento de seu primeiro single e álbum pela jovem gravadora Tokyo Fun Party. Como vocês conheceram seu presidente, SoccerBoy? Ele foi o primeiro a lhes oferecer um contrato?
Nao: Nós não planejávamos lançar CDs quando começamos. Foi SoccerBoy quem nos ofereceu a oportunidade de fazer um. Ele ficava dizendo, “Façam! Façam!” (risos) Então aconteceu.
Então tudo aconteceu muito rápido e agora vocês também são distribuídos pela gravadora francesa Sonore. Como isso aconteceu?
Nao: Além de nós, SoccerBoy também tinha um contrato com um músico francês, Digiki, cujo álbum foi lançado no mesmo dia que o nosso, aliás. Nós nos tornamos amigos depois disso. Ele conhecia Franck Stofer e nos apresentou.
Vocês podem nos falar sobre seu vídeo recente, Tokyo Tokkyo Kyoka Kyoku? Por exemplo, qual o significado das máscaras que vocês usam?
Kazuhiro: O diretor artístico queria fazer algo envolvendo nosso conceito de um jogo entre amigos. Nós usamos as máscaras à noite, quando estamos voltando do trabalho de bicicleta e estamos todos juntos para festejar. Então, pela manhã, nós voltamos ao trabalho, depois de tirarmos as máscaras. Isso representa uma barreira entre a realidade e o jogo.
Hoje vocês estão na França para o Lex 2009, junto com diversos outros artistas japoneses. O que vocês sentem sobre isso?
Nao: Há muitos artistas que eu gosto nesse festival, como o De De Mouse e o Kicell. É estranho pensar que nós também fazemos parte disso e que somos vistos como quaisquer outros músicos.
O que vocês acharam do show de ontem? O público francês é diferente do seu público habitual?
Hiroaki: Eles não têm nada em comum. (risos)
Nao: Eu sempre quis tocar na França. (risos)
Kazuhiro: Os franceses são muito extrovertidos; eles mostram seus sentimentos.
Nao: Sim, eles são muito abertos.
Kazuhiro: No Japão, mesmo aqueles que gostam do que nós fazemos não demonstram isso. Às vezes nós pensamos se eles não nos acham entediantes.
Nao: Eu estava falando com o Kentaro sobre isso; no Japão, se ninguém começa a demonstrar que está se divertindo, ninguém vai demonstrar, porque eles vão achar que isso é ridículo.
Kazuhiro: Mas nós gostamos muito de tocar na frente de pessoas que demonstraram estar se divertindo.
Tocar fora do Japão era um de seus sonhos? O que vocês achariam, dez anos atrás, se um vidente tivesse lhes dito que isso iria acontecer?
Kentaro: Eu não teria acreditado nele. (risos)
Nao: Eu teria achado que ele era um vidente ruim. (risos) Seria impensável.
Kazuhiro: Quando nós ganhamos a oportunidade de vir para a França, foi inacreditável. Eu me achei muito sortudo por poder viajar de graça e fazer um show em um outro país. Mas, mais tarde, quando nós recebemos a lista de músicos que também tinham sido convidados, eu fiquei com medo! (risos)
O que vocês acham da cena eletrônica japonesa atual? Na sua opinião, o que de único ela tem a oferecer?
Kazuhiro: Eu acho que a cena eletrônica é bastante ampla.
Nao: No mesmo show é possível ouvir hip-hop, techno, breakcore e assim por diante. As diferentes bandas influenciam o estilo umas das outras, e algo muito original pode nascer disso. A música eletrônica também é influenciada pelo rock, e várias outras coisas.
Vocês têm algum outro projeto para o futuro?
Nao: Não há nada melhor que possa acontecer conosco agora. (risos) Mas nós queremos lançar um segundo álbum. Nós também estamos trabalhando com uma banda de garotas para um álbum. Elas cantam, tocam guitarra, teclado e fazem várias outras coisas. Na verdade, elas são vendedoras de uma loja de roupas em Koenji. Elas nunca realmente tocaram música, então pode ser interessante tocar com elas.
Vocês têm planos de lançar um single? Um álbum?
Nao: Não temos nada decidido ainda, mas um álbum seria bom.
O JaME gostaria de agradecer a Franck Stofer, o gerente da gravadora Sonore e diretor artístico do Lex, Antoine Chosson, agente de imprensa do Théâtre de Nîmes, nosso tradutor Satoko Fujimoto e, é claro, ao Chimidoro.