Entrevista

Entrevista com Yuuki, do Jinkaku Radio

29/04/2010 2010-04-29 15:56:00 JaME Autor: Non-Non, Neejee & Kay Tradução: Hikari

Entrevista com Yuuki, do Jinkaku Radio

O vocalista do Jinkaku Radio compartilha suas opiniões sobre o processo de composição, o novo álbum, a cena musical e os objetivos da banda.


© Jinkaku Radio
Esta é a continuação de uma entrevista em duas partes com a banda Jinkaku Radio. Após uma longa pausa durante a qual trabalharam no novo álbum, os membros voltaram às atividades ao vivo e anunciaram um novo single, Taiyou, a ser lançado em abril. O vocalista Yuuki falou conosco sobre shows, composições, seus objetivos e o futuro do Jinkaku Radio.


Você pode se apresentar?

Yuuki: Eu sou Yuuki, vocalista e guitarrista do Jinkaku Radio.

Você é conhecido por fazer piada de tudo e brincar bastante, mas, ao mesmo tempo, suas letras são profundas e significativas. Como você explica este contraste?

Yuuki: Eu sou humano, então é claro que tenho emoções. Algumas pessoas podem dizer que músicos deviam expressar em suas músicas tudo o que eles querem dizer, mas eu não tenho essa mentalidade. Simplesmente acontece que eu estou na música, então eu me expresso na música, mas eu não sou habilidoso o suficiente para expressar tudo por ela. Mas eu quero expressar todas as minhas emoções, mesmo que não seja somente na música, mas também em outros lugares, como em MCs. Quanto ao amor, tristeza ou raiva, eu posso expressar isso em músicas, mas não acho que posso ser objetivo. Eu não tenho confiança de que poderia expressar toda a minha felicidade através de minha voz. Pensando em um único show, eu quero que a excitação aumente e depois se acalme, como ondas, quero que isto seja entretenimento. Então, eu expresso uma de minhas emoções, a felicidade, no MC. (risos)

Você expressa suas emoções mais profundas e obscuras nas músicas, e o seu lado mais alegre no MC?

Yuuki: Não era algo que eu estava fazendo conscientemente, mas quando eu penso sobre isso, essa é a explicação que eu encontro.

Você escreve letras sobre problemas sociais e o lado feio da humanidade. É sobre isso que você pensa e sente em seu cotidiano?

Yuuki: Basicamente, as letras não começam de problemas tão grandes. É só que eu não sou bom em expressar diretamente o que está dentro de mim. Por exemplo, eu tenho uma música chamada Shoku (comida), que fala da ironia de pessoas que são contra o comércio de peles, porque os animais são bonitinhos e elas simpatizam com eles, mas essas mesmas pessoas comem carne de porco e vaca. Não é sempre tão grande, é só o que quer que eu esteja sentindo e pensando sobre as coisas ao meu redor, e costuma soar um pouco irônico. Mas eu não quero terminar as músicas com uma nota cínica, então coloco algum alívio em alguma parte. É assim que eu faço músicas.

É difícil escrever letras sobre uma realidade da qual você gostaria de desviar o olhar?

Yuuki: Minha dificuldade parece inevitavelmente, porque escrever músicas é difícil para mim. (muitos risos) Isso não se limita a músicas, eu posso fazer qualquer coisa que outras pessoas podem fazer. Eu sou bom o suficiente para fazer isso, para estar na média. Eu só não tenho a perseverança, a força de vontade de seguir em frente e chegar ao topo. (risos) Mas, com relação a fazer músicas, é algo que eu tenho que superar, não importa o nível de dificuldade que eu enfrente, mesmo quando eu sinto que não consigo. Por exemplo, em nosso primeiro álbum, Shouko (evidência), nós não tínhamos lançado um álbum antes, então tudo era novo, eu podia enfrentar qualquer dificuldade. Mas, conforme eu continuei fazendo músicas, os sons se tornaram limitados e eu comecei a pensar, “Isso soa como uma música que nós já fizemos”. Eu quero fazer músicas de todas as categorias, mas há limites e às vezes eu encontro obstáculos e penso “ah, não posso fazer dessa forma”. (risos) É nesse ambiente que eu faço músicas. Há tantas coisas que eu não posso fazer, então, basicamente, fazer músicas é algo depressivo.

Mas quando você termina, tem um grande senso de conquista, não?

Yuuki: É verdade. Quanto maior a dificuldade, maior o sentimento de conquista.

Para os fãs que não entendem japonês, você pode nos dizer algo sobre suas letras? Há algum tema que você segue?

Yuuki: Minha regra é só escrever letras em japonês. Em qualquer música, provavelmente há frases em inglês que se encaixariam facilmente, mas eu não quero misturar as línguas. Se eu escrevo em inglês, a música toda será em inglês. Se eu escrevo em japonês, ela é toda em japonês. Se eu incluo algumas palavras em inglês, as pessoas me perguntariam se eu não posso escrever uma música inteira em japonês, mas eu não posso escrever tanto em inglês. Então, eu fico com o japonês e procuro os sons mais bonitos nesta língua. Mesmo que seja algo que eu quero muito dizer, eu vou substituir por outras palavras se o som for melhor. Eu penso muito sobre as letras, tentando encontrar o que se encaixa melhor, então as pessoas devem achar que há algum significado profundo nelas. É como um jogo de palavras para mim. Uma vez que eu tenho o que quero dizer, está completo, eu não preciso transmitir isso a mais ninguém. Eu vou mudar o que quero dizer para fazer isso soar melhor. De qualquer forma que minhas letras sejam interpretadas, eu estava pensando em algo específico quando as escrevi, então elas estão completas para mim. Depois, as pessoas estão livres para interpretá-las da forma que quiserem.

Se as palavras forem diferentes, as pessoas as interpretam de formas diferentes?

Yuuki: Isso. Às vezes as pessoas falam de uma frase que eu escrevi sem pensar muito e me falam sobre como a interpretam. Mas é um pouco estranho para mim. (muitos risos) Eu aprecio o quanto eles pensam nisso, mas... é um pouco assustador o fato de estar fora do meu controle. (risos)

Hoje em dia há muito mais informação online, então, provavelmente, há mais interpretações.

Yuuki: É sempre assim quando você coloca sua opinião ao público, e isso não se limita a cantores. Quando você fica na frente do público, ganha mais pessoas que o apóiam e que ficam contra você, mesmo sem conhecê-los. Eu não me importo com a forma de como sou recebido e interpretado, e não estou procurando por um significado. Eu pego o que quero dizer e expando vagamente a partir daí, então não tenho músicas nas quais falo as coisas realmente diretamente. Eu escrevo coisas que farão as pessoas sentirem que é difícil entender, porque o que eu queria dizer originalmente não está realmente ali.

Então você não está escrevendo mensagens para seus ouvintes conscientemente?

Yuuki: Eu não estou mandando mensagens para fora, só estou completando algo dentro de mim mesmo, como uma auto-manutenção. Eu as coloco em um painel, como se fossem um programa de televisão, então pode ser um pouco irritante. Para mim, a expressão através da música é um alívio para mim mesmo. Eu não faço músicas para que as pessoas me entendam. Eu só canto o que quero expressar, e, quando está concluído, é o suficiente. É assim que eu faço músicas, então acaba se tornando um processo muito interno.

Você toca guitarra e faz a programação de computador sozinho, então, quando você faz músicas, é capaz de concluí-las sozinho.

Yuuki: Sim, eu acho que sim, porque, no caso de músicas originais, eu tenho que completá-las. A partir daí, quando nós fazemos shows, as músicas crescem e caminham por si mesmas gradualmente.

De onde você tira a inspiração para suas músicas? Você escreve usando o que sente todos os dias?

Yuuki: Eu tiro muita inspiração de artigos. Eu não costumo ouvir muita música. Eu escuto música no carro ou no trem, mas não em casa. Eu leio livros e visualizo as cenas, pensando sobre qual música combinaria. Também não costumo assistir a muitos filmes, eles já fizeram tudo o que era possível.

Então você escreve sobre as imagens que tira dos livros?

Yuuki: Não só isso, eu tenho minhas histórias favoritas, e mantenho essas histórias e algumas conversas em mente. E há coisas que acontecem no meu dia-a-dia, há melodias que soam bem para mim, e, quando tudo se conecta, eu finalmente posso colocar para fora. Se há alguma coisa faltando, eu não posso fazer. Eu tiro inspiração de artigos porque fico motivado quando acho uma história boa. Mas só isso não é suficiente. Deve ter alguma ligação com minha experiência pessoal, e, quando tudo se liga, eu sinto que posso fazer. É um processo difícil. Não é como seu eu jamais escutasse as músicas de outras pessoas, mas não costumo escutar a sério. Às vezes algo vai ser marcante, eu vou achar que é algo que eu posso usar e ligo isso a tudo, e uma música surge inesperadamente.

Então não há nenhuma música específica que tenha lhe influenciado, como quando você começou a banda?

Yuuki: É claro, quando eu era um adolescente eu estava absorvido em música. Então eu sinto um vazio ainda maior, pensando por que eu não escuto música agora.

Você tenta não escutar música por medo de suas imagens serem comprometidas?

Yuuki: Hmm, talvez. Tudo o que eu quero escutar, eu já escutei muito. Eu gosto muito do Radiohead e os escuto desde os meus vinte anos, eu quero ser como eles. Não há nada mais que eu queira escutar, então eu pensei em fazer música.

Qual é a situação ideal para você compor?

Yuuki: Hmm, é difícil dizer. (risos) Eu não sigo um roteiro, eu não tenho vários shows, entrevistas e prazos, então é como se eu não pudesse ver à minha frente. Eu quero começar a trabalhar, mas, se não há prazo, eu me demoro em meu trabalho. No ano passado, eu fiz uma pausa de um ano e compus músicas, mas meu trabalho não progrediu bem, então é difícil dizer o que seria melhor. De qualquer forma, se eu não estivesse envolvido com música, eu estaria perdido.

É mais fácil se envolver com a música quando se faz muitos shows?

Yuuki: Hm… eu não consigo fazer músicas se não estiver impressionado com alguma coisa, e isso não se limita à música. Quando eu estou ativo, fazendo shows, fico impressionado com alguma coisa todos os dias. Mas, se não há nada me impulsionando, eu fico preguiçoso.

Você costuma se confinar em seu quarto para escrever músicas?

Yuuki: Bem, eu não sou o tipo que faz isso... mas estou tentando. (risos) Quando eu consigo fazer músicas, é só naquele momento. Eu nem sei o que acontece, o que se conecta, naquele momento.

Você usa computadores para compor?

Yuuki: Sim. Basicamente, eu trabalho usando meu computador. Mas estou mudando minha forma de compor. Em nosso último álbum, Shoko, eu fiz tudo com a orquestra, não me importei nem um pouco com as melodias.

As melodias do Jinkaku Radio são bonitas e dramáticas, mas você fez músicas com a orquestra?

Yuuki: Sim.

Nós vemos uma grande variedade em suas músicas, incluindo rock, pop, folk e assim por diante.

Yuuki: Atualmente nós queremos mais exposição, então eu penso mais sobre as melodias. Eu não faço mais músicas com a orquestra.

Você pensa em como poderia ser bem sucedido no mainstream?

Yuuki: (risos) Bem, hoje em dia isso não é muito bom. (risos) Eu estou um pouco perdido, pensando se não seria melhor continuar fazendo as coisas do meu jeito.

Ainda que sua música e a aparência parecida com a dos Beatles não sejam típicas do visual kei, vocês costumam ser vistos em eventos e revistas visual kei. Por que?

Yuuki: (risos) Eu não sei porque. Houve uma época em que eu me arrumava e usava roupas espalhafatosas, e usava bandagens sem sentido.

Como quando você estreou?

Yuuki: Sim. Eu estava em uma banda visual kei antes de começar o Jinkaku Radio, mas eu não conseguia explicar por que eu me vestia dessa forma quando me perguntavam. Naquela época, eu dizia que era uma forma de expressar minha música. Quando eu pensava no motivo do por que eu não conseguia explicar, eu reparava que estava mais concentrado no visual do que na música. (risos) Nós estávamos nos apresentando para outras pessoas e tínhamos que ter um visual legal, então decidimos usar um visual ortodoxo nesta banda. Eu fui vocalista na minha banda anterior, apesar de, originalmente, ser um guitarrista, e fiz shows pensando em mostrar beleza. Eu pensava, “Essa música foi composta assim, então eu quero esse tipo de expressão, e a iluminação deve ser assim”, e assim por diante. Agora eu não me visto dessa forma porque não fico satisfeito se não cantar desesperadamente, e tudo bem se eu não estiver atraente. Nesse sentido, nós estarmos na cena visual kei é estranho, mas também combina, eu acho.

Por que você acha que combina?

Yuuki: Eu acho que pessoas que se expressam em público são todas mais ou menos visual kei. Se vê até mesmo anunciantes que usam tinta de teatro no rosto. Se esses elementos de sua aparência podem ser persuasivos, eu acho que eles devem fazer isso. Por exemplo, se uma vendedora de uma loja de cosméticos bronzeada recomendar cosméticos clareadores, não seria nada persuasivo, certo? (risos) Eu acho que é isso que nós estamos fazendo agora, nós achamos que nossa aparência pode ser persuasiva, então usamos ternos. Bem, mesmo se nós colocarmos braçadeiras, estaremos usando ternos normais. Talvez as pessoas não consigam imaginar o tipo de música que nós fazemos quando vêem nós dois usando ternos, mas ternos são um bom estilo para aparições em público. Isso é importante para nós. Nós mostramos nossas músicas, e eu acho que os ternos têm significado e poder persuasivo. Nós não nos arrumamos muito, mas temos um tipo de visual formal, nos expressamos através de músicas e criamos uma nova visão de mundo, e é isso que o visual kei faz.

Você atraia os olhares das pessoas, fazendo-as pensar que tipo de música vocês fazem, pois sua imagem é diferente do visual kei tradicional.

Yuuki: Eu não sei, essa é uma opinião que as pessoas podem ter. Provavelmente é verdade, já que as pessoas [visual kei] ao nosso redor são mais coloridas.

Acho que ainda há pessoas que possam se afastar por vocês serem visual kei. O que você acha de estar na categoria visual kei?

Yuuki: Visual kei é um termo estranho e não é um gênero musical, originalmente. Isso é algo que eu quero enfatizar. (risos) É meio irônico. Eu acho que as músicas que nós tocamos são persuasivas agora, então me sinto confiante, não importa o que eu esteja usando. Por outro lado, se as músicas têm seus próprios mundos, usar fantasias assim pode causar um conflito, porque seria como dizer, “Você usa isso, mas suas músicas são daquele jeito?”. Eu acho que nosso visual é básico e nossas músicas podem se desenvolver a partir daí, então nós não precisávamos mais nos arrumar tanto. Se você quiser nos chamar de visual kei, por mim tudo bem. É claro que eu reconheço que nós somos diferentes do que as pessoas costumam chamar de visual kei. Bem, sinceramente... se vestir assim dá tanto trabalho agora. (muitos risos) Sim, esse é um grande motivo. Nós não estamos cansados de usar ternos porque o básico é o melhor.

O que nós deveríamos saber sobre Naoki?

Yuuki: Naoki é o produtor e faz os arranjos das músicas que eu faço. Eu trabalhei dessa mesma forma com outras pessoas antes, mas, quando explicava coisas do tipo “Eu não quero que você mude essa parte” ou “Eu quero que você adicione aqui”, eles rearranjavam meus rascunhos e as músicas voltavam completamente diferentes e estranhas. Mas com Naoki, mesmo se eu não explicar nada, ele entende e faz os arranjos do jeito que eu quero. Então, eu confio muito nele, eu sinto que ele me entende.

A química musical é certa para vocês dois?

Yuuki: Sim.

Como vocês são fora da música?

Yuuki: Nós provavelmente não nos encaixamos. (risos) Eu nasci em uma família de comerciantes, então penso como um homem de negócios.

Você calcula valores?

Yuuki: Sim. Eu me preocupo muito com perdas e ganhos. (risos) Eu não vejo as coisas de forma otimista. Eu tendo a pensar na pior situação possível e, sem querer, atraio isso. (risos)

É uma tendência estranha.

Yuuki: Bem, eu não quero causar problemas, é claro. Porém, eu tendo a seguir por esse caminho. (risos) Naoki é um velho membro de banda que consegue dizer não para o que as pessoas devem dizer não nesse mundo, e ele tem uma atitude positiva. Ele tenta encontrar pontos positivos no que ele rejeitou. Ele vive em um lugar totalmente diferente das obrigações de negócios, e tem confiança para rejeitar coisas. Eu sou meio covarde quanto a isso, eu digo sim quando deveria dizer “Deveria ser isso”. (risos)

Então vocês se complementam, certo?

Yuuki: Eu acho que sim. Somos balanceados. Não é como se nós não nos entendêssemos, ou não nos gostássemos, ou temos problemas para nos darmos bem. Nós conhecemos e entendemos um ao outro de alguma forma. Mas nossas idéias são bem diferentes.

Eu imagino que ele o interrompe quando você está indo para algum lugar perigoso e diz “Não vá por aí”, certo? (risos)

Yuuki: Sim, sim, sim. Mas há o oposto também – apesar de ser raro. (risos) Somos só nós dois, então, quando algum de nós se apressa, o outro tem que ser o que restringe.

Que tipo de músicas nós podemos esperar no novo álbum?

Yuuki: Antes de nós pausarmos nossas atividades, queríamos fazer um “álbum conceito”, mas eu não entendia isso. Eu pensei, “O que é um álbum conceito?”. Eu queria fazer um álbum com um grande pilar, com histórias que saíssem daí, tudo unificado por um só mundo. Seria como se a história principal não mudasse, mesmo que os atores principais mudassem. Então o álbum conceito seria unificado por letras e assim por diante para mim, mais do que pelos sons. Então, eu tentaria ligar diferentes histórias relacionadas a um “parque de diversões”, mas eu nunca fiz músicas dessa forma antes... e eu percebi que sou muito ruim nisso. (muitos risos) Eu aprendi uma coisa com este trabalho, que é que eu não suporto trabalhar seguindo regras. Eu sou uma pessoa espontânea! (risos) De qualquer forma, nós já tínhamos começado, e eu estou fazendo músicas da forma que quero, e acho que Naoki vai arrumar tudo do jeito dele. Ainda que algumas músicas podem estar boas, se as melodias forem chatas, a música não vai se salvar – ela não será boa. Então, eu vou trabalhar muito nas melodias.

Você adiciona as letras depois?

Yuuki: É a última coisa que eu faço. Na verdade, colocar o título é a última coisa. Eu expando a partir de coisas óbvias, adiciono uma orquestra e penso no que combina com a orquestra. Eu não tenho nenhuma música que comece com o pensamento “Eu quero escrever isso”. A maioria das minhas músicas não são sobre o que eu quero dizer, o que conta mais é a coordenação, o que combina melhor com a música.

Você planeja escrever letras em inglês no futuro?

Yuuki: Bem, é difícil dizer. Para músicas de velocidade média, não há problema em escrever só em japonês, mas para as mais energéticas e selvagens nos nossos shows, é difícil ser só em japonês! (muitos risos)

Eu sei que você quer gritar em inglês.

Yuuki: Eu fiz uma regra e tento segui-la, então tento desesperadamente usar só japonês. Mas, recentemente, eu comecei a sentir que pode ser melhor usar algum inglês, em lugar de me restringir somente ao japonês. Mesmo em nosso dia a dia, é impossível falar só em japonês. Não é natural hoje em dia, e eu penso se é necessário me afastar do inglês ou do japonês. Mas eu não acho que tenho o talento para misturar bem as duas línguas.

Não acha?

Yuuki: Bem, eu não sei porque ainda não tentei. (risos)

Oningyousan é uma música que se destaca por ser rápida e pelo modo como é apresentada. Qual é a história por trás do título dessa música e das bonecas utilizadas durante os shows?

Yuuki: A maioria das minhas músicas são inspiradas por experiências da minha vida. Eu tenho fortes memórias da minha infância. Eu me lembro dos detalhes exatos de quantos anos eu tinha quando briguei com minha irmã mais velha, como ela me machucou, o que eu contei a meus pais e como eu pedi para que eles a castigassem.

Isso é horrível. (risos)

Yuuki: Eu fiz Oningyousan a partir de uma dessas memórias. Enquanto eu crescia, meus pais ficavam mais velhos. Pode soar estranho, mas, historicamente, houve ‘montanhas onde pessoas mais velhas eram deixadas’ no Japão, que correspondem a asilos atualmente, e eu queria descrever como essas coisas se ligam em mim. Mas, quando eu faço músicas, eu estou puramente procurando por sons que se encaixem, então não me importo muito com as letras. Quanto a Oningyousan, eu fiz tudo em cerca de dez minutos.

Como a apresentação foi decidida, com a boneca no palco?

Yuuki: Isso veio de uma conversa que eu tive com Naoki. Eu disse a ele qual era o título da música e ele disse “Nesse caso, Yuuki, cante com uma boneca”. Ele não disse nada sobre chacoalhá-la. Eu achei que essa seria uma boa música para os fãs fazerem uma coreografia, mas, na primeira vez em que a apresentamos, o público pareceu não saber o que fazer, então as coisas não foram tão bem. Na época eu ainda era ruim em shows ao vivo, então eu pensei em como fazê-los fluir bem... e fiquei nervoso! (muitos risos) Eu pensava, “Caras, façam alguma coisa!”, e bati neles com a boneca algumas vezes. Agora as pessoas falam para eu bater neles, e eu me tornei o Sr. Inoki (famoso lutador japonês) do mundo visual kei.

Então eles vão ficar desapontados se você não socá-los. (risos)

Yuuki: Bem, eu sei que depende do lugar e da situação. A boneca é feita de pano, e é uma situação especial em que as pessoas ficam felizes por apanharem dela. Uma vez nós fizemos um show secreto – nós estávamos usando sistemas de sincronismo em nossos shows, então, quando um baterista de verdade entrou para a banda, nós queríamos praticar antes de nosso primeiro show com ele. Havia outras bandas além de nós, havia um público de cerca de dez pessoas na casa, e todos eles sabiam que nós íamos aparecer naquele dia. Eles estavam curtindo, e, quanto eu bati neles em Oningyousan, eles correram tão rápido até o fumdo da casa de shows! (muitos risos) Então, eu pensei, “Ah, entendi. As pessoas não têm escolha porque elas não podem sair correndo. Mas, se elas puderem correr, elas vão!” (risos) Mas eu corri atrás delas e bati nelas! (muitos risos)

Que cena terrível! (risos)

Yuuki: Não era algo que eu queria fazer desde o início. Só aconteceu de eu bater ao expressar uma reclamação, e isso continuou desde então.

Eu imagino que você esteja ficando cansado disso.

Yuuki: Você está certo! Eles costumavam pedir que eu batesse neles, então eu pensava, “Ok, eu vou socá-los até vocês não conseguirem mais dizer isso” e “Por ser feito de pano, não dói”. Então eu coloquei arroz na boneca! (muitos risos) Eu bati de leve, mas era bem pesado e doloroso, então eu pensei, “Ok, eles não vão mais me pedir com tanta freqüência”. O show começou e eu bati na platéia, então... eu coloquei muita força e a boneca se partiu e o arroz se espalhou, como uma chuva de arroz! (muitos risos)

O público deve ter pensado que isso fazia parte do show. (risos)

Yuuki: Foi uma situação do tipo “Eu não sei por que, mas alguma coisa parecida com grãos está voando!” (risos) Mas eu percebi que estava mostrando algo, e eu acho que tanto respondi como traí as expectativas da platéia. Para essa música, sem ser muito excêntrico, eu pensei em fazer o que eles queriam. Às vezes eu me preocupo com isso e penso que talvez não devesse fazer essa música. Eu não quero que o Jinkaku Radio seja igualado à Oningyousan porque acho que todas as nossas músicas são obras primas. Porém, se uma banda tem uma obra prima, ela provavelmente é uma boa banda, então eu sou agradecido por isso agora, porque as pessoas ao meu redor a percebem como uma obra prima.

A música Bangyaru shoukogun é basicamente uma paródia sobre fãs que exageram, e vocês a apresentam com furitsuke e lolitas no palco – algo que vocês não costumam fazer. O que o inspirou a escrever esse tipo de música e esse tipo de apresentação no palco? Foi uma experiência pessoal?

Yuuki: Eu tive algumas experiências pessoas encontrando ‘bangyaru’ (meninas que são obcecadas por suas bandas favoritas) e eu exagerei nas histórias, mas a música em si é feita baseada nisso. O resto foi só uma questão de tempo.

Você fez a música antes?

Yuuki: Sim, Eu fiz só por diversão, não para as pessoas ouvirem. Eu sei que deveria apreciar o fato das pessoas terem a imagem de que o Jinkaku Radio faz músicas dark e misteriosas que às vezes soam como músicas folk, como Gogo no rakka, Nejimakidori e Wasurenagusa. As pessoas têm uma imagem do Jinkaku Radio, que indica um certo sucesso para nós. Porém, eu não quero que as pessoas digam “Isso não é o Jinkaku Radio” quando nós tocamos músicas pesadas em nossos shows, como Oningyousan e Dekiai. Eu queria dizer, “Se nós tocarmos música enka, vocês ainda vão reclamar disso?”. Eu queria que as pessoas reconhecessem qualquer música que eu lance. Eu fiz uma brincadeira fazendo a música e a lancei em um momento importante, em uma data próxima de nós estarmos em um grande palco. Eu queria quebrar a imagem de que “o Jinkaku Radio é assim”. As pessoas ao meu redor, como nosso empresário e Naoki, foram contra. Eles disseram, “Por que você quer fazer algo assim agora?!” (risos) Eu só queria dizer que, o que quer que nós lancemos, é Jinkaku Radio. Bem, mas, basicamente, eu adoro bangyaru.

Eu sinto seu amor por elas. Suas bangyaru são tão animadas que ficam esperando por vocês nas casas de shows antes e depois das apresentações.

Yuuki: Há fãs assim em outros gêneros musicais, mas, por algum motivo, há preconceito contras as bangyaru. Para ser franco, as bandas visual kei são ruins. Bandas visual kei japonesas sofrem preconceito, e pessoas de outros gêneros nos perguntam por que nós usamos maquiagem. Originalmente, eu não gostava muito de visual kei, então quero mudar essa imagem. Eu quero trabalhar duro no visual kei e convencer as pessoas. Então, as pessoas que gostam de visual kei podem ser legitimadas. (risos) Elas não sofreriam mais preconceito, e poderiam ficar no mesmo nível das meninas que perseguem a Johnny’s. (risos)

Então você quer dizer que você não conta somente com a aparência, mas faz música seriamente. Então, você quer, gradualmente, elevar as pessoas que o apóiam, certo?

Yuuki: Sim, sim, sim. Mas eu não posso dizer isso abertamente, então fiz essa letra... mas elas são reais, de certa forma.

Qual foi a reação quando você a lançou naquele momento inesperado? Eles ficaram surpresos, pensando “isso é mesmo Jinkaku Radio?”, ou acharam que combinava com vocês?

Yuuki: Hm... eu não me lembro muito bem, mas acho que as duas reações foram grandes. Como resultado, as pessoas dizem que essa música representa o Jinkaku Radio, então ela foi um sucesso.

Nessa música, vocês usam roupas lolita e fazem uma coreografia. Vocês pensaram em apresentar a música dessa forma desde o início?

Yuuki: Bem, Naoki disse, “Se nós vamos fazer isso, vamos fazer direito”. Ele foi contra mim às vezes, mas entende meus pontos positivos, então ele volta para mim! (muitos risos) Nós discutimos por duas ou três horas sobre a mentalidade, como deveria ser, e, finalmente, ele disse, “Eu entendo! Vamos fazer isso em larga escala!”. Ele me disse que eu não tinha que explicar a mais ninguém, tudo o que importava é que ele entendia. “Não vamos fazer direito. Teremos dançarinas, faremos fantasias, faremos em uma grande escala”. Essa música tem um impacto, então as pessoas que nos acham superficiais devem ter visto a imagem no YouTube. Mas, se essa fosse a única imagem que eu tinha, eu não teria feito. Eu pude fazer porque tinha outras músicas. Eu não consigo brincar sem ter também meu lado sério. Se não tivesse, não veria sentido em brincar. Eu tenho uma base firme, então posso me desviar do meu curso.

São seus aspectos contrastantes, como você disse antes, certo?

Yuuki: Sim.

Você pensou em alguma consequência negativa que poderia ocorrer se alguns fãs entendessem da forma errada, ficando nervosos com vocês?

Yuuki: Eu não sei, isso pode acontecer. Mas eu não me importo. (risos) Eles não precisam escutar, certo? (risos) Eu não vou especular sobre pessoas específicas.

No geral, o ritmo de lançamentos do Jinkaku Radio é bem lento. Por que?

Yuuki: Bem, eu não faço muitas músicas... sim, eu sou ruim! (risos) Esse é o único obstáculo.

Quando você começa a fazer músicas é mais rápido, mas, até você chegar a esse ponto, você não pode fazer grandes coisas a não ser que diferentes elementos sejam colocados juntos no momento certo, não é?

Yuuki: Bem, eu gostaria de dizer que posso fazer músicas se me mandam pegar atalhos... mas eu não consigo fazê-las mesmo se pegar atalhos. (risos)

Eu sei que você não gosta de fazer músicas parecidas com as anteriores. (risos)

Yuuki: Eu odeio! (risos) Se me dizem “Você pode comprometer o trabalho. Faça dez músicas agora e nós vamos escolher entre elas”, eu não consigo fazê-las.

Se você está no processo de fazer músicas, você não as está rejeitando completamente? Se há uma parte com a qual você não concorda, você não gosta.

Yuuki: Sim, eu acho que sim… mas eu acho que não tenho talento! (muitos risos) Um homem talentoso poderia seguir em frente rapidamente. Eu sempre olho para trás e sou limitado por meus trabalhos anteriores. Mesmo que eu diga isso de forma positiva, tipo “eu quero lançar algo que nunca tenha lançado antes”, ainda sou limitado por meu passado. Pessoas que não se importam com isso podem dizer “Esta é uma música diferente”, mesmo que seja parecida com seus trabalhos anteriores.

Colocando em outras palavras, o artista que lança músicas parecidas pode ser facilmente reconhecido quando escutamos suas músicas.

Yuuki: Essa é a cor deles, e eles respondem às expectativas das pessoas, então eu não os condeno. Mas, pessoalmente, eu não gosto disso. Não faz parte da minha natureza.

Você é amigo do Shinichirou, do Jully, há bastante tempo, e, em 2003, vocês lançaram o single Kasu. Nós vamos ter novidades desta dupla mais uma vez?

Yuuki: Eu faço as músicas originais e Naoki decide se vamos usá-las ou não. Por exemplo, se ele pode prever alguma coisa enquanto faz os arranjos, nós faremos. Normalmente, quando ele diz que nós não vamos fazer, eu obedeço. Mas há somente duas músicas que eu realmente queria fazer e que Naoki rejeitou. Shinichirou estava ficando pobre (risos) e eu disse, “Vamos ganhar algum dinheiro”. Eu não tenho muitos amigos em bandas. Eu não posso me preocupar em me dar bem com eles.

O que quer dizer que, mesmo sem essas pessoas, você fica bem.

Yuuki: Eu não preciso de amigos em bandas, já estou satisfeito, então não tento fazer amizade com eles. Eu não sou excelente cantando, mas Shinichirou, quando o vi em um evento, achei muito bom. Eu acabei gostando dele, ele tem uma personalidade meio masoquista (risos) e meu modo de me ligar a outras pessoas é meio sádico, então é um bom equilíbrio. Nós achamos que seria interessante tocarmos juntos, então tentamos. Se fizéssemos ótimos trabalhos, talvez tentássemos de novo. Nós fizemos alguns jogos de palavras, “yuzu” (fruta cítrica) para “kuzu” (lixo), e “kuzu” para “kasu” (ralé). (muitos risos) Nós somos a ralé, não somos?

Por favor, deixe uma mensagem para nossos leitores.

Yuuki: Eu sou Yuuki, conhecido como “Bae Yong Joon” no Japão. (risos) Eu só canto em japonês, mas dou valor à beleza da linguagem de meu país e faço músicas com orgulho. Então, eu espero que vocês escutem o Jinkaku Radio e curtam o som do japonês.
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