Em um descontraído papo o JaME pode conversar sobre o cenário Visual Kei, expectativas, surpresas e os shows que a banda deu no Brasil.
Enquanto coordenava a sessão de fotos que o Charlotte fazia por pontos turísticos cariocas, o JaME teve a oportunidade de sentar com os integrantes da banda e conversar um pouco sobre a experiência que tiveram nos dias 10 e 11 de novembro de 2007, quando se apresentaram em São Paulo e no Rio de Janeiro. Era uma tarde de quarta-feira muito quente, todos estávamos cansados mas ainda muito animados ao falar do acontecido.
Nós somos o JaME e é um prazer enorme estar aqui ao lado de vocês. Estaremos fazendo algumas perguntas relativas ao evento e ao cenário japonês, então, por favor, antes de mais, poderiam se apresentar para os leitores que ainda possam não estar familiarizados.
Kazuno: Somos o Charlotte. Eu sou vocalista Kazuno (*em português).
Ruka: Somos o Charlotte. Eu sou baixista Ruka.
Takane: Somos o Charlotte...
Kazuno: Não precisa do "Charlotte" mais. (risos)
Takane: Eu sou baterista Takane.
Mitsujou: Eu sou guitarrista Mitsujou.
Touya: Eu sou guitarrista Touya.
Kazuno: In Rio. (todos riem)
Por que a escolha do nome Charlotte?
Kazuno: Somente pela sonoridade. Naquele tempo ouvimos Charlotte Church, achamos a sonoridade boa e acabamos colocando no nome da banda.
Não tem nenhum significado em especial?
Kazuno: Não. (risos)
Inúmeras bandas de visual-kei vêm se apresentado pela Europa e Eua já há alguns anos. Vocês, sendo major e tendo seu trabalho já reconhecido no Japão, esperavam o convite para tocar no exterior?
Kazuno: Sim. Como muitas bandas já haviam sido convidadas para tocar no exterior, não nos espantamos muito de sermos convidados. Mas para tocar no Brasil foi uma surpresa.
Já sabiam algo do Brasil?
Kazuno: Sabíamos as coisas famosas, mas não sabíamos detalhes.
Em geral, como foi a experiência da visita de vocês ao Brasil?
Ruka: Uma seqüência de surpresas.
Kazuno: Como tiveram pontos muito diferentes do que estamos acostumados no Japão, nos surpreendemos com muita coisa. Mas além disso foi muito divertido, e todos são muito boas pessoas.
Vocês fizeram duas apresentações no país, o que os marcou nestas?
Kazuno: Mesmo os dois sendo no Brasil, assim como Tokyo e Osaka no Japão, a reação do público nos dois lugares foi diferente e isso foi muito interessante.
Acompanhando a carreira de vocês nota-se que inúmeros momentos fora de shows são gravados e colocados nos DVDs como extras bem ensaiados e divertidos. Esses momentos são importantes para a formação da imagem da banda Charlotte?
Kazuno: Sim, são. Não somente os shows, mas também ter a lembrança de viver outros momentos com alegria.
Pretendem usar as cenas gravadas do Brasil?
Kazuno: As cenas filmadas no Brasil nós gostaríamos de mostrar em algum lugar. No Japão.
Vocês escolheram a temática escolar para a banda. Porque exatamente esta escolha?
Kazuno: Naquele tempo, no Japão, não havia nenhuma banda que tivesse usado o tema escolar, e no Japão como a escola é uma coisa que com certeza todas as pessoas vão, achamos que seria fácil de as pessoas entenderem as mensagens das músicas. Também como uma certa marca de identidade da banda.
Uma pergunta mais pessoal! Que tipo de alunos vocês foram?
Kazuno: Kazuno não fazia coisas ruins mas andava com as pessoas que faziam.
Ruka: Ruka era um delinqüente. (risos)
Takane: Eu estudava com muita seriedade.
Mitsujou: Mitsujou sempre se atrasava.
Touya: Uma pessoa muito boa, Touya. (risos)
Elemento sempre presente nos shows de vocês são os furi-tsuke (coreografias). Quem de vocês os cria?
Kazuno: Na banda?
Sim.
Kazuno: Primeiro eu faço, e se eu estiver em dúvida, peço ajuda aos outros integrantes. Mas como eles só sugerem esquisitices, no fim acaba que eu faço todas. (risos)
Vocês esperam que o público fora do Japão também sigam as coreografias?
Kazuno: Se for para curtir o show de uma banda japonesa, seria interessante que fizessem. Mas mesmo que não façam, se estiverem curtindo o show, isso é o que conta.
Como é o processo de composição das músicas no Charlotte?
Kazuno: Até agora, fazemos todos juntos o instrumental primeiro, e depois encaixamos a letra e a melodia. Ultimamente como queremos fazer muitas músicas, cada um vai fazendo e apresentando a sua, e depois juntamos com todos e decidimos como ficarão.
Muitas bandas, quando tocam no exterior, tentam se livrar do esteriótipo de banda de Visual Kei’. Vocês se sentem confortáveis com essa denominação?
Kazuno: Sim.
Ruka: Não vemos problema algum.
Kazuno (perguntando para o Touya): Podem chamar de Visual Kei? (risos)
Vocês são a primeira banda de visual kei a vir para a América Latina. Estando assim na dianteira de um mercado possível de se expandir, vocês tem alguma impressão que gostariam de compartilhar, sobre a posição das bandas de Visual Kei que estão na ativa?
Kazuno: Têm muitas bandas japonesas que são muito parecidas, então acho que seria interessante eles criarem uma identidade própria. Além disso acredito que se as bandas japonesas não se esforçarem mais, elas não irão acompanhar os fãs de J-Rock do mundo. Os fãs de J-Rock ao redor do mundo estão mais animados que os fãs das bandas no Japão, então as bandas devem acompanhar essa determinação.
É um costume aqui as pessoas levarem câmera e tirarem suas próprias fotos dos shows. Apesar do apelo feito, o mesmo se manteve neste evento. Como vocês se sentem em relação a isto?
Kazuno: Como o Charlotte foi a primeira banda de Visual Kei a vir tocar no Brasil, a princípio achamos que seria legal deixar as pessoas se divertirem livremente, como elas estão acostumadas. Mas no Japão, fotos, vídeos, gravações em áudio, tanto de aparelhos normais como de celulares, são proibidas. No Japão não se pode fazer o que quiser com os artistas. Apenas assistímos de longe e torcemos por eles. Já no Brasil esta relação parece mais próxima. Sabemos que é impossível implementar esse tipo de regra japonesa no Brasil de uma vez, mas gostaríamos que os fãs brasileiros também pensassem um pouco no Japão e respeitassem algumas coisas que possam nos incomodar. Dessa forma nós daremos um show com muito mais empolgação. Também, caso esse tipo de comportamento continue, pode ser que se torne difícil trazer mais bandas japonesas para o Brasil no futuro.
Por isso, achamos que seja difícil conseguir isso imediatamente, mas se aos poucos as pessoas começarem a absorver os pontos bons do Brasil e do Japão, os shows de bandas japonesas no Brasil passarão a ser muito melhores.
Ainda são muito poucas as lojas que trabalham com material original japonês no Brasil. Muitos fãs só puderam conhecer e se interessar pelo Charlotte através de músicas baixadas da internet. É assim em quase todo o ocidente. Como vocês se sentem sobre isto?
Kazuno: Aqui também é ilegal, esse tipo de download?
Sim.
Kazuno: Os tempos mudam, então por uma parte não sabemos se há muito o que fazer sobre isso. Mas, acho que as bandas japonesas deveriam passar a enviar cds para vender aqui no Brasil. Se as bandas conseguirem fazer isso, e se os brasileiros passarem a ter fácil acesso aos cds das bandas de Visual Kei, mas não comprarem, será um prejuízo para as bandas japonesas. Isso também acontece no Japão, e é uma pena que não seja controlado.
Ano passado o Charlotte protagonizou uma situação inesperada quando ameaçaram terminar a banda caso todos os ingressos para um de seus shows não fossem vendidos. Vocês podem nos contar mais sobre isso? Foi só uma brincadeira?
Kazuno: Sim, era verdade. (todos assentiram com as cabeças). E falando isso, algumas pessoas que não poderiam ir ao show por morar muito longe, compraram os ingressos só para ajudar.
Mais recentemente vocês entraram no palco ao som de uma música de Yamapi (Daite Senorita no Stylish wave) Vocês são fãs de Yamapi? Ou foi só uma paródia?
Ruka: Johnny's!? (risos)
Kazuno: Não Yamapi em especial. Nós escolhemos grupos com artistas que dançam para subirmos ao palco.
Ruka: E acidentalmente escolhemos Yamapi.
Kazuno: Assim como outros, como por exemplo V6. Várias pessoas que dançam.
Quais as influências de vocês para as músicas? Orientais e Ocidentais.
Kazuno: Japonesa Luna Sea. Não japonesa Bon Jovi.
Ruka: Japonesa Luna Sea. Não japonesa Mr. Big.
Takane: Japonesa The Blue Hearts, e não japonesa Aerosmith.
Mitsujou: Japonesa Tube. Não japonesa Extreme.
Touya: Japonesa Luna Sea. Não japonesa Mr. Big.
Vocês estão têm algum momento marcante nesta vinda ao Brasil?
Kazuno: Os fãs são incríveis!
(helicóptero ao fundo)
Kazuno: EI!
Ruka: A carne é muito boa.
Takane: A animação dos shows.
Mitsujou: A gentileza dos brasileiros.
Touya: A animação dos shows e os vendedores ambulantes. (risos)
O JaME é um portal internacional e viemos acompanhando várias bandas no mundo inteiro. Vocês gostariam de tocar em algum outro país caso fossem convidados?
Kazuno: Gostaríamos.
Ruka: De tocar em outros países.
Alguma música em especial que recomendariam para alguém que acaba de conhecer o Charlotte?
Kazuno: Hmm...
Ruka: Tem muitas.
Kazuno: Tem muitas né? Todas! (risos) Todas são sensações diferentes. Portanto, todas.
Por favor, poderiam deixar uma mensagem da banda para os fãs brasileiros.
Kazuno: Vamos nos esforçar no Japão para poder vir ao Brasil mais uma vez, portanto torçam por nós. É... mais ou menos isso. (risos)
Agradecemos sinceramente pela oportunidade.
Charlotte: Obrigado.
O JaME gostaria de agradecer a Hideki Kuma Inoue, a NERVE, e também aos membros da banda Charlotte pelo tempo cedido para realizar esta entrevista.