Entrevista

Entrevista com o ZENI GEVA

28/05/2009 2009-05-28 11:19:00 JaME Autor: Jerriel, Shadow-X & Fox Tradução: Hikari

Entrevista com o ZENI GEVA

A banda de hardcore ZENI GEVA nos fala um pouco sobre sua nova turnê, a volta de Tatsuya Yoshida (Ruins) à bateria e os trabalhos de seus membros.


© ZENI GEVA
Para o retorno do ZENI GEVA à Europa, Kazuyuki Kishino (KK. Null), Mitsuru Tabata e Tatsuya Yoshida nos receberam algumas horas antes de seu show em Paris para um encontro casual.


O ZENI GEVA está de volta após quase sete anos. O que vocês sentem com relação a essa turnê?

Kazuyuki Kishino: É uma pergunta difícil. Nós planejamos fazer uma turnê européia em 2007, mas minha mãe faleceu pouco antes de nós começarmos. Eu cancelei a turnê e todos os shows. Fui muito afetado por sua morte, e levou algum tempo até que eu superasse. E quando eu quis voltar para o ZENI GEVA, nós tivemos essa oportunidade de fazer uma turnê. Nosso baterista anterior estava um pouco relutante com relação aos shows, então eu tive que encontrar um outro. Então, eu tive a idéia, “É de Yoshida que nós precisamos!” (risos) Eu já tinha tocado com ele há alguns anos, com as bandas YBO² e Geva², então por que não tocar de novo? Por acaso, nós fazíamos parte de um mesmo conjunto durante um show em Tóquio em 2008. Quando eu tocava solo, Yoshida estava com Keiji Haino, e eu fui falar com ele. Eu perguntei se ele queria voltar com o ZENI GEVA, e ele disse, “Espere um pouco... Sim!” (risos) Foi assim que aconteceu. Agora eu estou muito feliz e otimista com o futuro do ZENI GEVA. Nós ainda não gravamos nenhuma música nova porque acabamos de reformar a banda. Mas, ainda que nós estejamos tocando nossas músicas antigas, elas soam diferente, graças aos arranjos e improvisações de Yoshida. É como se nós estivéssemos fazendo algo novo.

As influências do ZENI GEVA são bastante variadas. Os bateristas com quem vocês trabalharam fizeram sua identidade musical mudar?

Kazuyuki Kishino: Não, eu acho que não. O coração de minha identidade musical ainda é o mesmo. É claro que nossos vários bateristas nos trouxeram novas influências, com relação à estrutura das músicas ou arranjos, por exemplo, mas as raízes permaneceram intocadas.

Isso significa que você, Kazuyuki, está compondo a maior parte das músicas da banda?

Kazuyuki Kishino: Sim, é isso mesmo.

Vários de seus álbuns foram produzidos por Steve Albini, que também tocou com vocês em diversas composições. Como e quando vocês o conheceram?

Kazuyuki Kishino: Deve ter sido em 1990, eu acho. Na época, havia um americano morando em Osaka que tinha criado uma pequena gravadora chamada Public Bath. Ele era um grande fã de Big Black, Steve Albini e ZENI GEVA, e teve a idéia de nos colocar para trabalharmos juntos. Na verdade, eu não era muito fã de Big Black. (risos) Mas ele veio nos ver com a proposta de termos nossos álbuns gravados por Steve Albini, então eu pensei comigo mesmo, “Por que não?”. Então, nós fomos com ele até seu estúdio de gravação em Chicago.

Agora nós gostaríamos de falar um pouco sobre sua adolescência. Com que idade vocês começaram a se interessar por música, e o que vocês ouviam naquela época?

Kazuyuki Kishino: The Carpenters e os Beatles chamaram minha atenção para a música ocidental quando eu tinha 10 ou 11 anos. Mais tarde, uma de minhas maiores influências foi o Pink Floyd - essa banda realmente mudou minha vida. Em 1980, quando eu tinha 19 anos, fui ver o show The Wall em Londres. Foi a primeira vez que eu viajei para fora. Antes disso, eu nunca tinha pensado em me tornar músico; eu estava mais interessado em me tornar poeta ou escritor. Mas, depois de ver o Pink Floyd... wow! (risos) A música era tão poderosa. Foi uma experiência física, além de palavras ou linguagem. Era isso que eu queria fazer! Então, eu comecei a aprender a tocar baixo, mas não deu certo. (risos) Eu era muito ruim com as cordas e acabei desistindo. Em 1981 ou 1982 eu fui assistir ao primeiro show de Fred Firth em Tóquio. Ele colocou sua guitarra em uma esa e jogou coisas nas cordas. Os sons eram muito bonitos. Era algo novo para mim, que achava que todos tínhamos que aprender acordes e escalas. Mas aqui, nada disso! Era só fazer barulho e se divertir. Foi fantástico. E eu disse a mim mesmo que podia fazer isso. (risos) Então, eu comecei a tocar guitarra da mesma forma.

Você disse que queria se tornar um poeta. O que você lia na época?

Kazuyuki Kishino: Quando eu era adolescente, eu gostava muito de ler autores franceses, como Arthur Rimbaud, Verlaine, Mallarmé e outros – o simbolismo! Eu também gostava muito de Lê Cléziot.

Você tem uma carreira muito prolífica, com trabalhos solo e várias colaborações. Voltar para uma estrutura de banda lhe traz alguma estabilidade?

Kazuyuki Kishino: Sim, é assim que eu gosto de trabalhar, tendo algum tipo de equilíbrio. Mas eu sempre quero mais, então gostaria de fazer ambos. (risos)

Numerosas e significativas bandas de rock e noise nasceram no Japão durante os anos 80 e 90. No início de sua carreira, você sentiu algum tipo de efervescência musical?

Kazuyuki Kishino: Eu acho que, durante aquele período, o Japão recebeu muita influência da música alternativa anglo-saxônica. O Japão é um país onde é muito fácil obter todo tipo de informação de fora. Agora nós podemos escutar toda essa música punk, progressiva, techno, industrial, de qualquer época que seja. Em Tóquio, é fácil encontrar o que procuramos com vendedores de discos. Nós temos acesso a muita coisa. Você pode encontrar o que gosta, qualquer seja seu gosto. A tendência chamada indies no Japão começou nos anos 80. (aponta para Tatsuya Yoshida e Mitsuru Tabata) E eu acho que nós estamos no coração daquela tendência. (risos) Com bandas como YBO², Ruins, Boredoms... nós éramos inovadores naquela época. (risos)

Qual era a reação do público a essas bandas?

Kazuyuki Kishino: Era uma tendência bem espontânea. Nós não buscávamos nada em particular. Era uma geração de músicos que trabalhavam de forma instintiva. Eu acho que era isso que as pessoas queriam, ainda que fosse, e ainda seja, underground. Mas nós não enfrentamos nenhum tipo de objeção. Todos foram muito receptivos com nossa música.

Vocês acham que o público de hoje ainda se interessa por essa tendência?

Kazuyuki Kishino: Eu não sei se os jovens ainda se interessam por isso agora. (pergunta aos outros em japonês) E vocês, o que acham da situação musical atual no Japão?
Mitsuru Tabata: Agora há muitos jovens que querem tocar música. E nós estamos em uma situação estranha, porque os que querem tocar têm que pagar para poderem se apresentar em casas de shows.
Kazuyuki Kishino: Pessoalmente, eu não acho que isso seja um problema do Japão. É algo mais geral. Graças à internet, agora nós temos acesso a todo tipo de informação, música, a qualquer momento. Não há distinção entre a situação musical atual do Japão ou da França. É um problema mais complexo.

Hoje, as pessoas não apreciam mais um estilo musical em particular. Eles escolhem qualquer coisa de qualquer lugar sem realmente saber o que estão escutando.

Kazuyuki Kishino: Sim, é isso. Eles não se interessam em saber de onde vem a música que estão escutando. É como se estivessem em uma loja de conveniências. (risos) "Ah, hoje eu vou experimentar isso, vou comer isso". (risos)

A música classificada como experimental representa algo em especial a vocês?

Kazuyuki Kishino: Para mim, não há categoria ou tipo. Eu só faço o que quero fazer. Eu nunca digo a mim mesmo, "Ok, vou fazer música experimental ou noise". É como eu sou. (risos)

A volta de Tatsuya Yoshida ao ZENI GEVA, o renascimento do ANP e a republicação de Maximum Money Monster foram eventos que trouxeram de volta o passado de repente. É uma coincidência ou existe uma intenção de retornar às raízes?

Kazuyuki Kishino: Tudo aconteceu assim, por coincidência. Eu me encontrei com Seijiro Murayama por acaso em Paris, em 2001, e nós decidimos recriar o ANP. Eu fiz um show e ele foi me ver nos bastidores. "Oi! Você aí!" (risos) Fazia vinte anos que nós havíamos perdido contato, e ele reapareceu de repente. Foi engraçado.

Vamos falar de seus projetos futuros. Nós podemos esperar por um novo álbum do ZENI GEVA em breve?

Kazuyuki Kishino: Sim, eu espero que sim.

Com Tatsuya Yoshida?

Kazuyuki Kishino: Sim, é claro. Mas veremos. Nós não tivemos tempo de nos reunir em um estúdio antes da turnê. Quando voltarmos, eu espero que tenhamos tempo de nos aproximarmos, musical e pessoalmente.

Agora nós temos uma pergunta para Mitsuru Tabata. Você disse, não muito tempo atrás, na webzine "Jrawk", que queria compor trilhas sonoras de filmes de terror. Você já teve a oportunidade de fazer isso?

Mitsuru Tabata: Sim, atualmente eu estou gravando um álbum de horror music.

Para um filme?

Mitsuru Tabata: Não, nós estamos apenas imaginando o filme.
Kazuyuki Kishino: Eu também estou fazendo um. Meu álbum, Akumu, que significa "pesadelo", é a trilha sonora de um filme imaginário.

Kazuyuki, a experimentação eletrônica está se tornando uma parte importante de seu trabalho solo, como em Akumu, por exemplo. Às vezes você tem vontade de voltar para esse som cru e orgânico que o ZENI GEVA pode lhe dar?

Kazuyuki Kishino: Eu acho que meus sons eletrônicos já são orgânicos. Eu nunca achei minha música digital ou mecânica.

De fato, há ainda essas gravações de campo que você inclui em seus álbuns. Que tipo de lugar você gosta de usar para esses trabalhos?

Kazuyuki Kishino: Eu ainda não tive uma grande experiência em gravações de campo, mas gosto muito da Austrália para gravar sons naturais. Em 2006 eu fui para o Parque Nacional de Kakadu, no norte da Austrália, e ouvi os sons do campo. Fiquei impressionado. Eu podia ouvir a sinfonia da natureza. Sem necessidade de qualquer droga. (risos) É como retornar às raízes, e, ao mesmo tempo, um sentimento cósmico.

Você já se interessou pela gravação de campo em um ambiente urbano? Por exemplo, em Tóquio, no meio da cidade, no trânsito...

Kazuyuki Kishino: Não, eu odeio sons artificiais, como os de carros e fábricas. Mas eu já gravei sons nos subúrbios de Tóquio quando morava lá. Vinte anos atrás não havia tantas casas e pessoas morando lá como hoje. Você podia perceber claramente a natureza, as árvores, os pássaros, os animais selvagens. Mas agora, os mesmos lugares estão lotados. Há muitas fábricas ou lojas. É claro que ainda há espaços verdes onde eu tento gravar o canto dos pássaros, mas é muito difícil. (imita o som de um carro e ri) Ás vezes eu ainda consigo captar alguns momentos interessantes. Uma mistura de sons naturais e artificiais. Quando eu tenho sorte o bastante para gravar esse tipo de coisa, eu as uso. Como o canto dos pássaros misturado ao som de uma fábrica. Esses eventos podem parecer inesperados, mas às vezes eles acontecem de repente. O mais importante é decidir se o que você está escutando é interessante ou não. Esse tipo de coisa acontece todos os dias, é claro, mas, se você não prestar atenção, é apenas som ambiente. Mas, se você escutar com atenção e achar interessante, ele toma um sentido especial. É disso que eu gosto nas gravações de campo, elas não podem ser perfeitas. Sempre acontece algo inesperado.

Você não pode controlar essa parte do trabalho.

Kazuyuki Kishino: É isso mesmo, eu não posso controlar. É isso que eu acho interessante, e também divertido.


O JaME gostaria de agradecer a Jean-François, da Instants Chavirés, e, é claro, Kazuyuki Kishino, Mitsuru Tabata e Tatsuya Yoshida por sua disponibilidade e sua grande paciência com relação à nossa dicção no inglês.
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