Especial

Biografia Especial: Mana (Parte 1 – Auto Descoberta)

26/11/2010 2010-11-26 12:28:00 JaME Autor: Geisha Tradução: Hikari

Biografia Especial: Mana (Parte 1 – Auto Descoberta)

Como um punk tímido de Hiroshima se tornou o rock star andrógino que conhecemos hoje? Na parte um desse especial, exploramos a vida de Mana desde sua infância até o Malice Mizer.


© Moi dix Mois, Midi:Nette
Nome: Mana
Nome em caracteres japoneses: マナ, 魔名
Data de nascimento: 19 de março
Local de nascimento: Hiroshima
Tipo sanguíneo: O
Altura: 1,73m
Hobbies: Jogos, filmes, culinária, ballet

Quem é Mana?

Músico, compositor, produtor, designer de moda, criador de tendências, modelo – a importância de Mana na cultura pop japonesa não pode ser superestimada. Com as bandas Malice Mizer e Moi dix Mois ele alcançou fama internacional, e sua grife, Moi-même-Moitié, é uma das mais prestigiosas na moda lolita japonesa.

Mana desafia a categorização. Tanto na música como na moda, seu objetivo é se libertar das normas e preconceitos e criar seu estilo único, unindo elementos que parecem incompatíveis. Seu trabalho é centrado em temas obscuros e profundos, como o poderoso metal gótico que ele compõe para seu projeto dolo, o Moi dix Mois. Porém, ele pode escrever facilmente faixas pop suaves, como pode ser visto em algumas de suas composições para o Malice Mizer e, mais recentemente, para a jovem vocalista e violoncelista Kanon Wakeshima. Até mesmo sua moda gótica e delicada é uma fusão de opostos. Um individualista radical, ele quer encorajar e inspirar as pessoas a confiar em seus instintos e ser quem elas quiserem ser, não importa o que os outros pensem.

Mas quais experiências e ideias moldaram o artista que vemos hoje? Nesta biografia especial, seguimos a jornada pessoal e musical de Mana, de punk adolescente niilista a músico aclamado internacionalmente e ícone fashion, e exploramos o mundo que ele criou para si e para outras mentes semelhantes.

Infância

Mana nasceu em Hiroshima como o mais velho de três irmãos. Seu nome real e ano de nascimento são desconhecidos. Seus pais eram professores de música, e sua casa estava cheia de instrumentos musicais e música clássica. Uma vez que sua mãe o deixava escutar música enquanto ele ainda estava em seu útero, ele foi apresentado ao som que acabaria por se tornar sua marca registrada antes mesmo de ter nascido. Mais tarde, seus pais o fizerm aprender a tocar piano, mas o energético menino que adorava ficar na rua e jogar futebol e baseball não gostou da ideia, dizendo, com desdém, que pianos são “para meninas”.

Com a imagem andrógina que ele tem hoje, essa aversão a coisas “femininas” pode ser uma surpresa, mas as sementes de outros interesses e inclinações que se tornariam importantes em seu trabalho já estavam presentes em sua infância. Por exemplo, ele gostava de quadrinhos de terror e de contos de fadas, como João e Maria, e, mais tarde, incorporaria imagens de contos de fadas e de imagens mitológicas, como anjos e demônios, nas letras de suas músicas. Sua fascinação com a questão do que significa ser humano, ‘ningen to wa’, que se tornou o tema chave do Malice Mizer, foi parcialmente despertada por seu anime favorito, “Youkai ningen Bem”, traduzido como “Monstro humanóide Bem”. A série tinha um clima obscuro e contava a história de três youkai, seres sobrenaturais que, apesar de sofrerem abusos dos humanos por causa de sua aparência, tentavam proteger a população humana e suas cidades, esperando um dia tornarem-se humanos em resposta ás suas boas ações. Ele também desenvolveu uma paixão por vampiros, outro tema musical, que ele associava à beleza, insanidade, tristeza e mistério. Ele costumava assistir a filmes de vampiros e outros de terror tarde da noite.

Na escola, Mana era muito ativo e perdia o interesse nas coisas muito rápido. Os únicos assuntos pelos quais ele se interessava eram artes e esportes. Ele gostava de desenhar, especialmente figuras de ficção científica, e ganhou vários prêmios em competições de desenho. Ele também gostava de trabalhar com argila, mas, mais do que criar, ele adorava destruir depois de pronto, pois achava que destruir algo que tem um formato fosse arte. Porém, sua timidez criava problemas. Ele odiava as aulas de música, pois as crianças tinham que cantar, uma por uma, na frente de toda a sala. Ele também não gostava de ser como os outros. Pouco antes de chegar ao ensino médio, ele entrou para um clube de artes no qual era o único membro. No ensino médio, ele não entrou para o time de baseball, como a maioria dos meninos fez, porque, como uma pessoa tímida, sentir todos os olhos fixados em si o deixava desconfortável. Em lugar disso, ele entrou para o time de handball, pois queria praticar um esporte que não fosse popular, não baseball ou futebol, como todos os outros. Quando todos os estudantes compraram uma mochila que ele achava feia, ele usou uma parecida por algum tempo, mas logo a trocou por uma diferente. A atitude não-conformista que viria se tornar um tema chave em sua vida e em seu trabalho começava a aparecer.

Adeus, normalidade!

Esses fatores também apareciam em seu gosto musical. Até o ensino fundamental, o jovem Mana escutava a tudo o que era popular, incluindo cantoras pop e boy bands, como as da Johnny’s. Ele praticava os passos de dança e até mesmo fantasiava sobre entrar em uma boy band. Porém, na sétima série, o heavy metal ganhou popularidade, e logo ele se tornou um metaleiro. Um show do Mötley Crue em Osaka mudou sua vida para sempre. Era a primeira vez que ele ia a um show de rock e, ao ver os extravagantes membros da banda e os igualmente extravagantes cosplayers, começou a sentir vergonha de sua aparência comum. Nesse dia, ele decidiu dar as costas à normalidade e ‘viver no mundo da corrupção’. Ele começou a experimentar com a maquiagem de sua mãe e transformou seu quarto em uma casa de shows provisória. Mana cobriu as paredes de lona preta, pintou esqueletos e pendurou um ponto de luz no teto. Seus pais não compartilhavam essa paixão pelo rock e ficaram horrorizados com o estado de seu quarto, mas ainda assim ele os convenceu a comprar uma guitarra e uma bateria do Tommy Lee. Infelizmente, eles compraram um violão, o qual ele nunca tocou. Ele acabou comprando para si uma guitarra e tocava bateria o dia todo em seu quarto. Mana estava pronto para formar uma banda.

Seu primeiro projeto foi uma banda cover do Mötley Crue, mas logo ele migrou para um som e uma atitude ainda mais rebeldes. No ensino médio ele foi apresentado ao Sex Pistols, e, percebendo que a necessidade de se expressar era maior que sua timidez, ele formou uma banda punk baseada na popular banda japonesa THE STAR CLUB. Eles alugaram centros comunitários e começaram a tocar ao vivo. Anos depois, em 2007, ele convenceu os membros de sua antiga banda, agora homens de negócios bem-sucedidos, a se reunirem sob o nome Mana’s Not Dead e se apresentarem em seu festival anual Dis Inferno no Shibuya O-East. A apresentação incluía cabelos em estilo punk, maquiagem e roupas feitas a mão, que podem ser vistos na “Maru Music’s Visual Kei DVD Magazine Vol.2”. Já que a música que eles apresentaram foi um cover, eles pediram e receberam permissão do THE STAR CLUB de publicar a apresentação em DVD.

Não somente as fundações musicais de Mana se estabeleceram na época de escola, mas também as de designer de moda. Para expressar seu espírito punk, que ele diz que ainda o inspira tanto musical como visualmente, ele adotou um visual totalmente punk. Mana deixou seus cabelos crescerem até os ombros e os tingiu de vermelho vivo ou rosa, fez um grande moicano e passou a usar botas de bico de aço e jaquetas de motoqueiro, que decorou com tachas e desenhos a caneta. É claro que, na época, como membro do time de handball, ele e seus companheiros de time apareciam nos jogos com cabelos espetados, orgulhosos de não se parecerem com os outros jogadores. Mais uma vez, seus pais não ficaram nada felizes. Como professores, eles não queriam que seu filho atraísse uma atenção negativa na escola, e pediram que ele mudasse seu visual. Porém, Mana continuou explorando seu recém descoberto interesse na moda. Ele customizou seu uniforme escolar forrando sua jaqueta com caxemira e adicionando bolsos, passou a colecionar catálogos de lojas que vendiam uniformes e a desenhar seus próprios uniformes escolares. Sua paixão por desenhar roupas acabaria levando Mana a abrir sua própria grife, a Moi-même-Moitié.

Masculino e feminino

Após se formar no ensino médio, Mana não tinha certeza do que fazer com sua vida – ele só sabia que não queria se tornar um funcionário de escritório. Ele acabou se mudando para Osaka, onde entrou para uma escola musical e se uniu a uma banda punk chamada Girl’e, como guitarrista. A banda produziu duas demo tapes, a capa de uma delas tendo sido desenhada por Mana. O desenho mostrava os quatro membros da banda como personagens de desenho animado, e, no interior, um desenho do Gato Félix.

Ainda que ele continuasse tocando música punk, seu visual mudou dramaticamente desde sua época de escola. Em uma gravação de uma apresentação do Girl’e, ele aparecia usando roupas femininas e batom, cabelos longos e soltos, exceto por algumas mechas decoradas com laços. Essa nova imagem era resultado de uma evolução em sua personalidade. Quando menino, ele odiava coisas femininas; na adolescência, ele se descrevia como um “macho man” agressivo com uma atitude destrutiva e sentia uma raiva crescente contra o mundo. Porém, no fim da adolescência, ele começou a se abrir para seu lado feminino, ou, conforme ele mesmo disse, começou a perceber que havia também uma mulher dentro dele. Essa percepção o fez acreditar que a alma de uma pessoa não existe somente no mundo presente, mas transcende o tempo em um ciclo infinito de renascimento, conforme explicou em uma entrevista para a revista Da Vinci, fazendo o autor compará-lo ao protagonista de “Orlando”, livro de Virginia Woolf. Nesta ‘biografia histórica’, um cortesão elisabetano muda de gênero. Baseado em sua experiência pessoa, Mana chegou à conclusão que gêneros eram decididos arbitrariamente pela sociedade e poderiam, portanto, ser desconsiderados. Ele gostava de roupas femininas porque seus desenhos são mais divertidos e variados do que o masculino, e agora, para reconhecer seu lado feminino, começou a usá-las tanto no palco como fora dele. Como nome de palco, ele escolheu o feminino Serina.

Mana acabou percebendo que o punk já não era seu mundo e começou a procurar por um som que combinasse mais com a pessoa que ele estava se tornando. Ele tinha levado algumas fitas de música clássica de seus pais para Osaka, e agora, após anos de indiferença, se pegou ouvindo-as quase que exclusivamente, especialmente as composições de Johann Sebastian Bach. Ele também desenvolveu um interesse pelo oculto e começou a colecionar filmes de terror. Suas trilhas sonoras estranhas e misteriosas o fascinavam, especialmente as da banda The Goblin, nos filmes do diretor italiano Dario Argento. Ele montou uma nova banda, cujo com foi inspirado nas trilhas sonoras de filmes de terror e, em grau menor, pelo heavy metal, contando com guitarra, baixo e órgão Hammond. Eles lançaram uma demo tape, mas não ganharam muita atenção e acabaram se separando.

Enquanto isso, na escola de música, sua atitude não-conformista e seu desejo de se expressar estavam criando problemas. Ele estava menos interessado em aprender teoria musical do que em descobrir como criar um som que refletia sua personalidade, e se sentia desconfortável com as ideias rígidas da escola sobre como devia soar a música. Ele continuou na escola por algum tempo, mas acabou desistindo e se mudando para Tóquio para se tornar um músico profissional. Lá, Mana conheceu outro homem incomum, que também sonhava se tornar músico. Seu nome era Közi.

Malice Mizer

Mana chegou a Tóquio com cabelos longos e verdes, e logo descobriu que, devido à sua aparência, suas chances de conseguir um emprego para se sustentar eram limitadas. Felizmente, ele soube de um karaokê próximo de sua casa que o empregaria, apesar de seus cabelos compridos. O bar tinha um palco iluminado, fazendo o local se parecer com uma pequena casa de shows. Os clientes eram jovens membros de bandas que vinham cantar músicas ocidentais, e a maioria dos funcionários também eram membros de bandas. Um deles era um jovem morador de Niigata chamado Közi. Ele, que se descrevia como ‘muito comum’ na época, ficou impressionado com a aparência de Mana, mas acho que ele fosse uma boa pessoa, e os dois acabaram se tornando amigos. Eles descobriram que viviam no mesmo bairro, e Közi começou a passar o tempo na casa de Mana, surpreso com a quantidade de filmes de terror que seu novo amigo tinha.

Algum tempo depois, Mana e Közi foram convidados para ajudar a banda Matenrou, cujo guitarrista, Kenichi, trabalhava no karaokê. Közi entrou como segundo guitarrista e Mana ficou com o baixo. Nessa época ele já tinha trocado o nome Serina para Mana, composto pelos kanji '魔', espírito maligno, e '名', nome. Porém, eles eram apenas membros temporários, e quando o Matenrou se separou, cerca de seis meses depois, eles decidiram dar início à sua própria banda. Mana já tinha pensado no som, visual e em usar elementos teatrais como parte das apresentações. Seu objetivo era combinar melodias de tristeza e beleza com a vlocidade do rock e vocais melódicos e fáceis de ouvir. Porém, ele não estava interessado no padrão comum de guitarrista principal e secundário com guitarras harmônicas no refrão. Ele queria trazer elementos clássicos à música, usando o som de guitarras gêmeas européias enquanto dois guitarristas tocam melodias diferentes que, juntas, se tornam a verdadeira parte de guitarra de uma música. Mas o mais importante para ele era que o som de sua banda fosse único e novo, não algo que fosse chamado disso ou daquilo.

Mesmo antes de Mana e Közi falarem de música ou da banda, eles costumavam ter conversas que requeriam pensamentos profundos, como o conceito do tempo, o que era o destino e se ele podia ser alterado e a questão do que significa ser humano. O que espreitava no fundo do coração humano? Eles falavam sobre essas coisas quase tão entusiasticamente quanto falavam sobre música, e às vezes passavam a noite acordados discutindo. A partir destas conversas, eles começaram a construir o conceito de sua banda com a questão “o que é humano?” como tema central. Mana escolheu o nome Malice Mizer, baseado nas palavras francesas “malice”, que significa “malícia”, e “mizer”, “misère”, “tragédia”, porque cada pessoa tem seu lado malicioso, e uma tragédia é algo que pode acontecer a qualquer momento. Ele queria expressar através da música o que há por trás dessa tragédia. Para ele, era como uma missão que devia ser cumprida. Ele até mesmo chegou a dizer que não gostava de si mesmo até se tornar um músico e sentia que finalmente havia encontrado o propósito de sua existência. Como baixista, eles recrutaram Yu~ki, ex-ZE:RO, que haviam conhecido quando ele se apresentou na mesma casa de shows que o Matenrou, Tetsu, ex-NERVOUS como vocalista, e Gaz, ex-DATURA, como baterista, logo subtituído por Kami, ex-Kneuklid Romance. Assim nascia o Malice Mizer, em agosto de 1992.

Apesar de Mana ser o líder e principal compositor da banda, eles viam a si mesmos coletivamente, como cinco indivíduos diferentes, cada um com sua personalidade, objetivos e ideias, trabalhando juntos para transformar o Malice Mizer em uma peça de arte. Quando eles se reuniam para compor, debatiam a dinâmica de cada música e como as linhas se encaixavam melhor. Eles pensavam muito ao criar harmonias para seus instrumentos, especialmente se tratando da interação das duas guitarras. Mana ainda se recusava a aprender teoria musical por achar progressões regulares muito entediantes, não querendo usar o mesmo tipo de melodias e harmonias que outras bandas usavam. Em vez disso, ele desenvolveu um método de composição baseado inteiramente no sentimento que ele usa até hoje. Primeiro, ele imagina a história, escolhendo depois os sons que combinam com a paisagem de sua história. Apesar de compor na guitarra e no teclado, Mana não dá atenção às cordas que usa ou como cada música vai se desenvolver. Em lugar de tentar fazê-las se encaixar em qualquer estrutura em particular, ele as deixa fluir naturalmente a partir de seus sentimentos e emoções e as arranja de forma que acha que combina com a composição. Como resultado, suas composições costumam mudar de ritmo ou chave, ter múltiplas melodias e serem imprevisíveis.

A jovem banda não tinha grandes ambições de se tornar major. Eles tocavam em lugares em que mal cabiam dez pessoas, e se divertiam assistindo seu mundo tomar forma aos poucos. Os cinco músicos faziam tudo sozinhos, desde a criação de suas roupas, cenários e flyers, até a abertura e encerramento das cortinas. Mais tarde, eles passaram até mesmo a entregar seus CDs nas lojas. Porém, eles não queriam só se apresentar como outras bandas; eles queriam fundir som e visão em um show que fosse como um belo filme. Assim, eles usavam fantasias e maquiagens elaboradas que complementavam as histórias que contavam em suas músicas, e decoravam o palco como se fosse o cenário de um filme: o castelo de um vampiro, um parque de diversões ou um campo de batalha de uma guerra mundial. A ideia era atrair pessoas a seus shows com a atmosfera do palco e os aspectos de ópera de suas apresentações, mostrando-lhes algo que desafiaria suas noções do que uma banda deveria ser.

No início, todos tiravam sarro deles e, em diversas ocasiões, eles tinham que ignorar comentários desagradáveis. Porém, Mana já esperava esse tipo de reação e escutava com atenção tanto ao que as pessoas odiavam quanto ao que gostavam, porque ele queria compartilhar suas ideias com o mundo. Apesar de ter pouco interesse na cultura pop comercial, ele queria que o Malice Mizer agisse como uma ponte entre o underground e o comercial, e alcançasse pessoas que, talvez, não conhecessem músicas fora do roteiro comercial ou que não conseguiam mostrar seu lado verdadeiro. Eles também receberam várias reclamações. Uma vez eles sujaram os rostos do público com pó dourado, que não saía com água. Em outra ocasião, seus cálculos sobre a distância que um esguicho de sangue viajaria acabaram errados, e as duas primeiras fileiras acabaram cobertas de sangue.

Porém, gradualmente eles começaram a chamar atenção. Em dezembro de 1992, apenas dois meses após sua primeira apresentação ao vivo no Meguro Rockmaykan, na qual distribuíram a demo tape Sans Logique, sua primeira entrevista foi publicada na revista SHOXX. Em julho de 1994 a primeira edição de seu álbum de estreia, Memoire, que eles mesmos produziram e lançaram através da recém fundada gravadora indie de Mana, a Midi:Nette, esgotou na pré-venda. O show one-man no Shinjuku Loft para comemorar esse lançamento também esgotou. Uma segunda edição do álbum foi produzida e, em dezembro, após duas turnês nacionais com diversos shows esgotados intituladas Cher de memoire e Cher de memoire II, uma terceira versão do álbum, intitulada Memoire DX, foi lançada, incluindo a faixa adicional Baroque.

Apenas alguns dias após o lançamento de Memoire DX, o vocalista Tetsu deixou a banda por não concordar com o conceito de incorporar coreografias e pantomimas às apresentações. A separação foi amigável, e ele, Mana, Közi e Yu~ki são amigos até hoje.

Levou quase um ano até que os membros encontrassem um novo vocalista que compartilhasse seus valores. Finalmente, um conhecido os apresentou a Gackt, ex-Cains:Feel. Ele parecia se encaixar perfeitamente, pois já tinha ideias que gostaria de incorporar ao Malice Mizer e, diferente de Tetsu, não se importava de usar maquiagem e dançar no palco. Sob sua influência, a imagem do Malice Mizer mudou drasticamente. Sua música se tornou mais leve e romântica, incorporando ainda mais influências clássicas, assim como techno e música pop francesa. Rendas góticas e rosários foram trocados por fantasias históricas coloridas, cada membro escolhendo uma cor: Mana ficou com o azul, Közi com o vermelho, Yu~ki com o amarelo, Kami com o roxo e Gackt com preto ou branco. Seu visual se desenvolveu constantemente, junto com seu conceito, mas Mana sempre era “a menina”: uma empregada, prostituta, dominatrix ou garota inocente escravizada por um vampiro. Seus atributos o tornavam uma mulher bem convincente – uma vez que ele colocava um vestido, seu lado feminino dominava e ele se parecia com uma jovem. Raramente ele usava roupas unissex, como um uniforme militar.

Fama

A pausa de um ano, durante a qual os membros procuravam um novo vocalista, não diminuiu sua popularidade. Pelo contrário, seu show de retorno, em outubro de 1995 no Shibuya O-West, esgotou, e a combinação de sua música única com a voz e o charme de Gackt cativaram a plateia imediatamente. Mais shows esgotados se seguiram, incluindo o one-man no Shibuya O-West para comemorar o lançamento de seu segundo álbum, Voyage. Finalmente, em 1997, a banda assinou um contrato com a gravadora major Nippon Columbia. Esse foi o início de uma grande carreira.

Eles viajaram para a França para gravar um vídeo que promovia seu primeiro single major, Bel Air, e passaram a aparecer na televisão regularmente, apresentando sua música, sendo entrevistados ou participando de game shows. O primeiro álbum major da banda, Merveilles, estreou em segundo lugar na Oricon, e seu show de mesmo nome no Nippon Budokan, com capacidade para catorze mil pessoas, teve seus ingressos esgotados em dois minutos. O show em si foi espetacular, contando com uma bela decoração, em elaborado show de luzes e Mana pilotando uma scooter. Na última música, Gackt, usando enormes asas negras e vomitando sangue falso, foi erguido por cabos presos no teto. Os membros tinham até mesmo seus próprios programas de rádio, mas Mana, que ainda se sentia tímido na frente de estranhos, não participou. Nessa época ele já tinha adotado a política de não falar ou sorrir em público que mantém até hoje, preferindo deixar que sua música fale por ele. Se alguém lhe fizesse uma pergunta na TV ou em algum evento público, ele sussurrava a resposta no ouvido de outro membro da banda, que respondia ao entrevistador, ou usava cartões de ‘sim’ ou ‘não’, ou instrumentos musicais para responder.

Apesar do grande sucesso, porém, uma tensão começou a crescer entre Gackt, que visava uma carreira internacional e mais fama para o Malice Mizer, e os outros membros, que começavam a sentir que, ainda que estar em uma gravadora major tivesse muitas vantagens, isso também significava que eles não podiam realizar suas ideias da forma que queriam. Eles ainda escreviam suas próprias músicas e desenhavam os rascunhos da produção dos palcos, mas agora trabalhavam com tantas pessoas, cada uma com um modo diferente de ver as coisas, que muitas vezes encontravam dificuldades para transmitir suas ideias. Gackt também começou a compor músicas sozinho, sem consultar os outros, o que não os agradou. No final de 1998 começaram os rumores de que ele havia sumido e planejava uma carreira solo. A princípio eles foram desmentidos, mas, em janeiro de 1999, o Malice Mizer apareceu na capa da Fool’s Mate sem Gackt, enquanto o vocalista aparecia na SHOXX sozinho. Na entrevista para a revista, Gackt confirmou que estava afastado do Malice Mizer para trabalhar em um lançamento solo intitulado Mizerable, e deixou a cargo da banda chamá-lo de volta. Ele também abriu seu próprio fã-clube. Gackt nunca voltou para a banda, e as circunstâncias que o levaram a sair são motivo de especulação até hoje. Em entrevistas e em sua autobiografia, Jihaku, ele citou divergências com a gerência e com os outros membros, entre outras. O Malice Mizer, por sua vez, afirmou que ele havia desaparecido sem explicação, não mais participando de reuniões da banda, e sua gerência lançou um informativo ameaçando-o de processo por quebra de contrato.

Tragédia e novos começos

Enquanto os fãs e a mídia ainda debatiam, o Malice Mizer sofreu uma perda ainda maior: no dia 21 de junho de 1999, o baterista Kami morreu repentinamente de hemorragia subaracnóidea, aos 25 anos. Atendendo aos pedidos de sua família, ele foi enterrado em uma cerimônia particular, somente com seus entes próximos presentes. Ele deixou para trás várias músicas do “novo” Malice Mizer – as primeiras que compôs sozinho – e a banda lançou duas delas um ano depois, como parte do box Shinwa, dedicado à memória de Kami. Em lugar de fazer um funeral para fãs que deixaria todos tristes, eles preferiram dividir seus trabalhos com o mundo, por sentirem que isso permitia que o baterista passasse sua mensagem e que os fãs olhassem o futuro de forma mais positiva. Como data de lançamento eles escolheram o aniversário de Kami, primeiro de fevereiro. Ele nunca foi substituído. A partir de então, o Malice Mizer spo usou bateristas suporte, e Kami foi creditado como “eternal blood relative” em todos os seus lançamentos posteriores.

Após a perda de Gackt e Kami, muitos acharam que o Malice Mizer fosse acabar, mas Mana manteve a banda junta. Em setembro de 1999, para ganhar total controle sobre seus assuntos, o Malice Mizer retornou para a gravadora indie de Mana, a Midi:Nette, e começou a trabalhar em novos materiais. Até então, Tetsu ou Gackt tinham escrito as letras de suas músicas, mas, uma vez que ainda não tinham um novo vocalista, essa tarefa ficou a cargo de Mana e Közi. Eles abandonaram o som pop romântico da era Gackt para uma mistura dramática de música clássica, rock gótico e metal, retornando às suas raízes e expandindo-as, adotando um elaborado visual gótico. Mana criou para si a imagem icônica que até hoje aparece em flyers de clubes góticos ocidentais, roupas e até mesmo na capa de um livro de histórias curtas húngaro: uma gothic lolita recatada em um vestido armado curto, meias até acima dos
joelhos e sapatos plataforma, seu delicado rosto pálido emoldurado por cachos.

Em julho de 2000, após dois singles instrumentais, o Malice Mizer lançou Shiroi hada ni kuruu ai to kanashimi no rondo, que apresentou seu novo vocalista, Klaha, ex-Pride of Mind, cujos profundos vocais operáticos complementaram perfeitamente o som novo e mais obscuro da banda. Um mês depois, seu quarto álbum, Bara no seidou, chegou às lojas. No dia do lançamento, o Malice Mizer fez seu show mais espetacular, uma apresentação de dois dias no Nippon Budokan, contando com um céu artificial com a lua e estrelas, pirotecnia e um coral de freiras usando véus. O palco foi dividido em três camadas, refletindo os três singles que levaram até o álbum, ou "santuário": uma catedral gótica em tamanho natural que foi colocada, imponente, sobre a camada superior. No final do show, os quatro membros da banda se reuniram na sacada da catedral, enquanto pétalas de rosas vermelhas caíam do teto. O Malice Mizer estava de volta.

Porém, esse retorno não durou muito. Em 2001, a banda estrelou o filme Bara no Konrei, lançou três novos singles — Gardenia, que simbolizou o amanhecer após a noite passada dentro do santuário; Beast of Blood, que contou a história de vampiros vivendo em uma cidade moderna; e Garnet — e começou a trabalhar em seu quinto álbum. Porém, o Malice Mizer havia chegado a um obstáculo. Até aquele momento, os membros sempre haviam trabalhado com o coceito de "o que é humano?", mas estavam começando a se sentir restringidos. Como sempre, eles fizeram várias reuniões e deram suas opiniões, mas dessa
vez não conseguiam entrar em acordo. Finalmente, eles concluíram que seria muito difícil reunir as ideias de todos em um álbum, e que seria melhor se cada um trabalhasse com suas próprias ideias fora da banda, absorvesse novas experiências e, um dia, se reunissem novamente. Então, em dezembro de 2001, após quase dez anos, os membros do Malice Mizer seguiram caminhos separados.

Klaha seguiu carreira solo. Közi se uniu ao Eve of Destiny, banda gótica de Haruhiko Ash, e também deu início a seu projeto solo. Yu~ki contribuiu com as letras para uma das músicas solo de Közi, mas não fez mais nada nos palcos. Enquanto isso, Mana prometeu criar "algo novo e chocante".

Fontes: sites e publicações oficiais do Malice Mizer, Moi dix Mois e Moi-même-Moitié, entrevistas para a Fool’s Mate, SHOXX, UV, Vicious, Da Vinchi, J-Rock Magazine, the Gothic & Lolita Bible, CD Japan, Orkus, JaME e vários outros.
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