Especial

Globalizando o Visual Kei: Investigando o Estilo Visual

17/09/2011 2011-09-17 18:35:00 JaME Autor: Meg Pfeifle (Phelan) Tradução: Nana

Globalizando o Visual Kei: Investigando o Estilo Visual

No nono artigo da série virtual "Globalizando o Visual Kei", nós exploraremos o visual kei e o relacionamento dos artistas visuais pelo mundo.


© Lydia Michalitsianos
Através do tempo, a música teve muitos rótulos que definiram o visual e o som. A partir desse leque de opções, de rótulos, de gêneros, nós temos visto uma infinidade de sub-rótulosque construíram um som do nicho ou uma tendência de roupas. Essas classificações têm ido além das condições aceitas internacionalmente, para aquelas que podem variar não só de país e cultura, mas entre pessoas individualmente.Considerando o termo “Johnny’s.”Uma vez usado para descrever artistas que pertencem ao selo japonês Johnny’s Entertainment, a própria palavra “Johnny’s” agora traz imediatamente à mente um artista com um som e aparência específicos–até parece aceitável dizer, quando tentando descrever uma banda similar, que ela nos lembra de um “Johnny’s”.

No entanto, apesar desses rótulos e classificações, um estilo no mundo da música ainda permanece nublado em confusão: artistas visuais. O que é “visual”?É glam rock? É visual kei? É emo ou gótico? Ou é simplesmente como o nome descreve - visual? Hoje vamos dar um passo para fora da caixae olhar para as raízes do visual kei para descobrir alguns detalhes desse enigma musical.


Definindo a Música Estilo-Visual



A música tem utilizado trajes e maquiagem por séculos, que remonta ao início das óperas e musicais.Durante o nascimento do blues, a Motown e os populares artistas dos anos 60como The Beatles, combinando roupas e complementos, ajudaram a construir a coesão e realizar uma forte performance. Contudo, no início dos anos 70, os visuais assumiram um significado totalmente novo, se tornando umelemento tão incorporado na música que, sem ele, simplesmente não seria a mesma coisa.Foi durante essa época que um novo rótulo nasceu: o glam rock.

Tendo início no Reino Unido, o glam rock, em sua forma mais básica, pode ser definido como um estilo musical cujos artistas usam roupas extravagantes, maquiagem e cabelos selvagens. Devidoao uso violento de glitter, ele algumas vezes também é chamado de “glitter rock”.Com seus artistas frequentemente usando roupas que beiram à androginia, o glam rock tem sido vinculado ao estilo andrógino; isso pode ser visto na maioria das roupas no visual kei.1Ao longo do tempo, como todos os estilos musicais, o glam evoluiu. Começando em meados dos anos 90, uma nova era do glam nasceu, cujos autores do Visual Kei no Jidaichamaram de “neo-glam”, um termo que tem sido usado para descrever artistas como Marilyn Manson.

Anos após o glam rock decolar, o rock gótico também nasceu. Inspirado pelo punk inglês inicial, a música logo tomou um rumo muito mais obscuro, e hoje é infundida com visuais e roupas escuras, letras profundamente introspectivas ou mórbidas e uma composição musical tipicamente pesada. Hoje o rock gótico se desenvolveu em uma série de subgêneros e é uma música estilo-visual amplamente aceita.2

Com o gótico e o glam rock mudando gradualmente, divergências surgiram se os artistas são “glam” e “gótico” ou não, já que utilizam maquiagem em figurinos. Esta é a questão, onde o “glam” e o “gótico” param e o “visual” começa? Como podemos definir um artista como “glam,” outro como “gótico” e outro como “visual kei” quando todos eles estão essencialmente fazendo a mesma coisa?


No Coração de Tudo que é “Visual”



Olhando para os estilos visuais pelo mundo, torna-se extremamente difícil determinar a qual tipo de grupo visual alguns artistas pertencem, ou se eles podem ser classificados no mesmo rótulo. Para alguns artistas visual kei, existe esta mesma complicação.

É fácil olhar para um grupo como o Combichrist, um grupo americano de metal eletro-industrial, e imediatamente associá-los ao “rock gótico” –seu uso pesado de maquiagem escura e figurinos não se assemelha em nada ao glamoroso, mas é muito mais na linha de outros artistas góticos, como o grupo gótico sueco,Deathstars. Entretanto, em muitos casos, a classificação de um artista não é tão clara.

Enquanto o glam rock é o verdadeiro avô do rock visual, os figurinos e maquiagens de hojeestão profundamente impregnados em múltiplos subgêneros do rock. Nós temos visto por décadasvisuais utilizados em tudo, de pop e rock alternativo ao death metal, gótico, música industrial eeletrônica, com muitas bandas os usando hoje pelo mundo.O subgênero da música industrial “Neue Deutsche Härte”,traduzido do alemãocomo “Nova Rigidez Alemã”,é outro que algumas vezes utiliza visuais para uma apresentação forte. O termo foi criado por jornalistas alemãs após um lançamento do Rammstein, e hoje é o rótulo para dúzias de bandas alemãs visuais, não visuais e góticas.3

É importante lembrar que há muitos artistas visuais que não tocam apenas rock, e isso faz da sua classificação muito mais difícil. Tome como exemplo, PANIC! At the Disco, My Chemical Romance, Tokio Hotel eLady Gaga. Todos os quatro usam maquiagens pesadas e vários figurinos, com Lady Gaga levando os visuais a uma nova dimensão, tanto dentro como fora do palco. Não há como negar que esses artistas são “visual”,mas eles se classificam como “glam”?

Enquanto PANIC! e My Chemical Romance são rock alternativo, seus visuais os levaram a ser chamados de “emo”, um termo que ambas as bandas disseram ser contra. Ambas se recusam a ser aceitas sob este nome, indo tão longe a ponto de chamar o emo de “porcaria” e afirmando que sua música não possui similaridade com esse som emo, apesar da sua aparência.4 É irrefutável dizer quesuas inspirações não possuem alguns elementos do glam rock, mas é difícil olhar para esses artistas hoje e rotulá-los como “glam rock”,que simplesmente nos deixa onde começamos: com o “visual”.

Lady Gaga tem atiçado discussões desde sua ascensão à fama, com os fãs a chamando de tudo, de ídolo à imitadora, e muitos críticos alegando que ela tenha roubado o ícone visual da artista pop Madonna.5 Enquanto sua música vaga do pop ao eletrônico,não é a música que faz dela quem ela é, é o seu visual. Uma coisa é certa: seu visual é parte dela e sem ele,ela não seria Lady Gaga.

O grupo alemão de rock Tokio Hotel é um caso especial, tendo sido notado especificamente por fãs visual kei, com uma especulação sobre o grupo ser ou não uma versão ocidental do visual kei. Embora a banda nunca tenha usado esse rótulo, sua recente colaboração na revista SHOXX com kanon do An Cafe só aumentou a suposta conexão.6 A questão de onde este grupo se encaixa gerou intermináveis debates7, mesmo com alguns artistas visual kei não sabendo como classificar o Tokio Hotel: Quando perguntamos seus pensamentos sobre o grupo,ShuU do girugamesh explicou, “Eu ouvi de fãs alemães de visual kei que estavam questionando o visual do Tokio Hotel.A boa coisa é que eles estão influenciando visualmente outros países. [..]Eu ouvi que eles têm influencias visual kei, mas, eles ainda não são realmente populares no Japão, então é difícil dizer [se eles são visual kei]”.8

Outro exemplo de confusão de classificação é a banda alemã Cinema Bizarre . Com vários membros com nomes artísticos japoneses, a banda projetou o seu estilo em volta do visual kei, com cada membro apreciando abertamente o estilo.Contudo, a mídia estrangeira os têm rotulado como “glam rock”,apesar das influencias do visual kei.9

Independentemente de qual classificação o Tokio Hotel e o Cinema Bizarreverdadeiramente pertença, a ousadia dos fãs e os debates acalorados se a banda é ou não visual kei, trouxe uma questão totalmente nova: o visual kei é exclusivamente japonês?


O Visual Kei é… Japonês?



Assim como o glam rock imitado pelos japonesesque resultou no gênero visual kei, outros pelo mundotomaram conhecimento e, por sua vez, tentaram copiar o visual kei. Bem antes de tentativas ocidentais, imitações do visual kei já existiam na Ásia Oriental, com uma das precursoras da tendência sendo a Silver Ash, na China, bem como os artistas coreanos, TRAX e EVE.

Pelos anos, bandas americanas e europeias têm tentado sua vez no visual kei, e os fãs têm visto um aumento de bandas não japonesasque explicitamente se classificam como “visual kei”.Algumas dessas bandas escrevem e cantam em japonês, mas outras simplesmente imitam os visuais enquanto cantam em sua língua nativa.

Enquanto esta imitação pelos ocidentais é um movimento claro em direção à aceitação mainstream, ela veio sob fogo pesado por fãs ocidentais de visual kei. Um fã italiano disse, “O visual kei é japonês. Essas bandas ocidentais posando como visual kei só são ridículas”.10 Essa opinião não está sozinha, e muitas bandas ocidentais visual kei nãojaponesas encontram-se não só sob críticas de serem “falsas”,mas também têm mais dificuldade em atrair uma multidão do que um artista japonês visual kei teria, bem como a dificuldade de comercialização para um público mainstream uma vez que seu público-alvo é tão específico.

As bandas visual kei ocidentais, entretanto, não são os únicos músicas a serem criticados: ocidentais que participaram de bandas japonesas visual kei também receberam o desprezo dos fãs estrangeiros. Um exemplo disso foi Jimi Aoma, um californiano, agora ex-baixista da banda visual kei Chemical Pictures. Fluente em japonês, Aoma morou no Japão por vários anos, e foi bem recebido no visual kei pelas bandas e pelos fãs japoneses. Quando perguntado sobre que tipo de negatividade ele tinha experimentado, Aoma respondeu, “A maioria das críticas que eu recebi foram de pessoas ocidentais.Elas diziam que eu era feio, que eu era um idiota; elas eram totalmente contra a ideia de um nãojaponês em uma banda japonesa”.11

A experiência de Aoma não está sozinha, e são problemas como estes que impedem o visual kei de ser propriamente disseminado na sociedade e se integrar em um estilo musical mainstream. Um fã americano colocou sucintamente: “Não há nenhuma cena fora do Japão, a não ser que bandas locais sejam permitidas e encorajadas a prosperar.Ovisual kei tem suas origens em bandas locais no Japão imitando bandas estrangeiras.Se os jovens japoneses dos anos 80 tivessem apenas ignorado todas elas por ‘não serem americanas’, então não teria visual kei agora, ponto”.12

Os artistas visual kei em si também tem visões conflitantes no visual kei.Enquanto MIYAVI disse que acha que “o Jrock era cultura japonesa original”, Isshi, ex-Kagrra, tinha uma ideia diferente, dizendo, “Originalmente, usar maquiagem e figurinos foi uma influência extraída de bandas americanas.Então, nós interpretamos esta cultura americana na nossa própria, [criando] o visual kei".13

Quando perguntado se eles achavam que o visual kei era distintamente japonês, o girugamesh teve uma resposta interessante: “O visual kei começou de bandas com influências de maquiagem glam rock como o KISS e o Marilyn Manson.Quando as pessoas começaram a chamar as bandas em outros países de “visual kei”,se tornou muito difícil de distinguir”.

A crítica da expansão do visual kei além de músicos somente japoneses pode não parecer ser um dilema que se encontra em toda a fanbase visual kei, mas especificamente na fanbase estrangeira. Como no caso de Jimi Aoma, sua presença na cena japonesa foi bem recebida, e ele observou em sua entrevista “Em três anos, só teve uma pessoa japonesa a dizer qualquer coisa, mesmo que remotamente.”14 Uma preservação cultural de inversões de papéis parece estar acontecendo; os fãs originais deste gênero, os japoneses, parecem mais abertos e concordantes não só com os aspectos de globalização deste estilo musical, mas também com a transformação da cena pelo tempo, enquanto que os fãs estrangeiros estão focados em manter-se fieis às suas “raízes” japonesas.15 Mesmo hoje, apenas 53% dos fãs disseram que escutariam um artista visual nãojaponês imitando o estilo.16 Sem a aceitação universal dos fãs de visual kei, há pouca esperança que opúblico geral aceite o estilo musical, que é condenado por alguns de seus próprios seguidores.


Moda? Música? Definindo o que é o “Visual Kei”



Há um desentendimento constante se o visual kei é um estilo musical ou um estilo de moda.17 Nós temos que considerar que se o visual for retirado, o visual kei pararia simplesmente de existir e então cairia em outras categorias musicais, variando do pop-rock ao alternativo e o death metal.

Quando um artista visual kei começa a largar seu figurino e maquiagem, ele, por sua vez, começa a largar aquele rótulo. Enquanto uma vez queser “visual kei” é um termo assombrado, cuja maioria dos artistas não consegue escapar totalmente, há aqueles que foram bem sucedidos.Artistas como o DIR EN GREY, GLAY e L’Arc~en~Ciel raramente são denominados como sendo “visual kei”; a própria página do DIR EN GREY no Wikipédia os cita como “metal japonês” e sendo “originalmente visual kei”.18

Saindo do visual kei e olhando para outros estilos visuais, como o glam, o gótico e o emo, se você retirar os figurinos, a maquiagem e as instalações de palco extravagantes, você está novamente deixando com só um elemento: a música. Comparando cada um desses estilos diferentes, a moda muda de fato, do visual energético e agradável do oshare kei à aparência completamente assustadora do death metal gótico. Isso torna difícil refutar o fato que o “visual”é uma escolha consciente de moda.Apesar de todos esses artistas compartilharem um elemento em comum,é simplesmente impossível colocar todos eles sob uma das opções do leque de gêneros musicais.


Visuais e Aceitação Musical Mainstream



Também é notável que a maioria dos músicos visuais ocidentais foi aceitos pelo público mainstream mundialmente, enquanto o visual kei ainda não; alguns artistas visual kei têm até mesmo citado Marilyn Manson como uma inspiração.19 Entretanto, fãs de glam rock, música de estilo visual e visual kei tem escutado um estilo, mas não necessariamente abraçaria outro. Tokio Hotel é um claro exemplo disso: fãs admitiram abertamente ouvir o visual kei, mas se recusam a aceitar o Tokio Hotel, e vice e versa.20

Enquanto o visual certamente é a fonte de alguma tensão que impede a popularidade mainstream, como é o caso no Japão devido à natureza não conformista da sociedade, esta pode não ser a única causa; se o glamour é removido, os estilos não existiriam. Portanto, a principal causa para a falta de popularidade de ambos os gêneros deve estar em outro lugar.

Tem havido muita especulação quanto à barreira de linguagem ser o principal obstáculo da conquista do visual kei, mas ainda há muita dúvida quanto a esta teoria. Rammstein e Tokio Hotel são apenas dois entre muitos que alcançaram a fama usando a sua língua nativa. Em particular,Du Hast do Rammstein tinha recebido forteairplayamericano no radio e na televisão no final dos anos 90 e alcançou a 20º posição no ranking da Billboard dos EUA.21 É importante lembrar que ambos tiveram lançamentos bilíngues, mas suas conquista gerais provam que bandas de língua não-inglesa podem alcançar o sucesso no mundo da música internacional mainstream.


Sumário




Uma vez que exploramos o mundo do visual inspirado pela música, fica claro como a confusão começa quando os rótulos são deliberadamente aplicados a qualquer artista que usa figurinos e maquiagem;isso se torna mais confuso quando tentamos classificá-los em um tipo específico de visual. No fim, todos os caminhos na música de estilo visual inevitavelmente levam de volta a influencia de um elemento: a moda.

Junte-se a nós na próxima semana, quando exploraremos o mercado atual do visual kei no exterior.

_______________________________________________________________

[1] "Glam Rock", last modified 2011.
[2] "Gothic Rock", Wikipedia, last modified June 12, 2011.
[3] "Neue Deutsche Harte", Wikipedia, last modified June 1, 2011.
[4] "Panic! At The Disco Declare Emo "Bullshit!" ", NME, October 18, 2006, accessed June 15, 2011; Darryl Smyers. "My Chemical Romance Shed Their Emo Roots" ", Dallas Observer, May 19, 2011, accessed June 15, 2011; "My Chemical Romance Brand Emo Shit", NME, September 20, 2007, accessed June 15, 2011.
[5] "Is Lady Gaga's Born This Way a Rip-Off of Madonna Classics?", E! Online, February 13, 2011, accessed June 15, 2011.
[6] "Tokio Hotel X Kanon (An cafe) in SHOXX March 2011", Tokio Hotel Indonesia, January 31, 2011, accessed June 15, 2011.
[7] "Do You ThinK Tokio Hotel is Visual Kei?", Facebook, last modified 2011; a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Category_talk:Visual_kei_musicians" target="_blank">"Category Talk: Visual Kei Musicians", Wikipedia, last modified 2008; "Collaboration Discussion: Tokio Hotel America", last modified 2008.
[8] "Interview with Girugamesh in Fairfax, Virginia" JaME, April 29, 2011, accessed June 15, 2011.
[9] “TBE Features: Cinema Bizarre, Visual Kei influenced band”, last modified April 4, 2009, accessed June 21, 2011.
[10, 12,16,20] “Globalizing Visual Kei Survey”, last modified March 11, 2011.
[11,14] Jimi Aoma, E-mail interview with author, March 10, 2011.
[13,19] IMF (2007.) “Globalizing Visual Kei Survey”. [video] Retrieved April 20, 2011.
[15 Japanese and overseas fans, e-mail interviews to author, February 1 to March 25, 2011
[17] "Visual Kei", Wikipedia, last modified May 28, 2011.
[18] "Dir En Grey", Wikipedia, last modified June 16, 2011.
[21] "Du Hast", Wikipedia, last modified June 14, 2011.
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